Mulher de flores e de luta

“...A VIDA É COMBATE,

QUE OS FRACOS ABATE,

QUE OS FORTES, OS BRAVOS

SÓ PODE EXALTAR”!

Gonçalves Dias

1943 – O ano que a princesinha Elizabeth nasceu.

O nome, escolhido pelo seu Pai Elias não poderia ser mais pomposo, fora escolhido a dedo para a sua filhinha caçula, nome de rainha, dissera ele, e com th, como o da Rainha Elizabeth da Inglaterra. E Betinha despontou para o mundo em 25 de fevereiro.

Sob o signo de peixes, hummmm!! A menina já nasceu decidida em ser um peixe voador, sentia que o seu mundo não poderia ser apenas os rios e igarapés de Altamira, sentia que havia vida ao longe, fora do Sítio onde nascera, era bastante curiosa , bom sinal!

Foi temporã, sua mãe Ester nem imaginava que depois de um longo tempo seria mãe novamente, mas aconteceu, e veio Elizabeth Viterbino da Silva que bem mais tarde tornou-se Santos.

As irmãs mais velhas já pensavam em outras coisas que brincar, o seu único irmão com seu jeito moleque também não brincava com ela, pelo contrário, adorava quebrar os seus brinquedos que não eram muitos, não havia crianças pela redondeza onde morava então Elizabeth foi crescendo sendo independente forçadamente., aprendeu a ser a sua própria companhia.

Beth viveu em um tempo que alguns assuntos não se falava com a mãe, muito menos com o pai, tempo que só um olhar dos genitores dizia tudo, meio telepatia. Na adolescência, como tinha poucos amigos, ela começou a ler em busca de resposta para seus anseios. Lia romances... mas nunca se enquadrou no papel da mocinha que esperava o príncipe, pelo contrário, ansiava por abraços acalorados, treinava o primeiro beijo nas frutas tipo abacate, manga e melancia, imaginando como seria bom beijar, namorava os meninos sozinha, sonhando acordada, eles, os garotos, nem imaginavam que aquela loirinha , magrinha, de pernas compridas estava interessada neles, seus pais pensavam que ela casaria com um primo, para dar continuidade a história da família que casava entre parentes, as meninas jovenzinhas contraiam matrimônio cedo, mas a Betinha tinha outros pensamentos, queria namorar alguém diferente, uma pessoa totalmente fora da família, tinha desejos de romper com a história já escrita para ela, e assim o fez.

Conheceu André, cafuzo garboso, bigodudo, dentes branquíssimos e boca cheia, sensual, carnuda que dava vontade de beijar muito. Foi amor à primeira olhada. Ele, um rapaz tímido, não ousou ir além de um bom dia, mas ela ficou derretida e enamorada.

Com o tempo, André se derreteu nos braços de Betinha e mostrou-se como um rapaz que sabia o que queria. A sua “pegada” a levou às nuvens e Beth pensou: É com ele que quero passar os meus dias, quero ter filhos e viver enquanto Deus permitir.

Enfrentou os pais, as convenções da época, fugiu com André, engravidou e casou ( nesta ordem mesmo).

Beth estava à frente do seu tempo, não se sentiu diminuída em nenhum momento, a vida era dela e queria vivê-la com as suas escolhas. Escolheu ser feliz, e sei que foi feliz ao lado daquele homem calado, calmo, mas um companheiro especial que lhe deu 5 filhas, uma viveu pouco tempo e eu e minhas irmãs estamos vivas. Depois de um tempo, Deus a presenteou com um filhinho, nosso irmão de coração que veio para alegria da minha mãe.

Com a maternidade, ela abdicou de alguns sonhos, mas depois retomou. Trabalhou muito, deu aulas em zona rural, foi trabalhadora liberal, e uma economista nata. Construiu algumas casas e as mantém até hoje.

Sempre foi uma mãe aberta ao diálogo, com ela podemos falar de tudo, mas também nos disciplinou com amor, quando palmadas era o método educativo, levei todas as possíveis e não fiquei traumatizada, creio que ainda foram poucas, nunca nos agrediu e nem violentou a nossa vida, pelo contrário, nos falava a verdade sem dissimulação.

O que posso falar mais dessa mulher que Deus escolheu para ser a nossa mãe? Que não poderia ter feito melhor escolha, ela nos ensinou a amar a Deus, o caminho da igreja, o amor à leitura, o respeito aos mais velhos, a hospitalidade, a fé, mesmo em meio às dificuldades, enfim, ela nos preparou para cuidar dela com amor em sua terceira idade.

Hoje ela faz 74 anos.

Nasceu em 1943, quando em nosso país navios brasileiros eram torpedeados pelos submarinos alemães e italianos, tentando manter o Brasil na neutralidade, havia uma guerra acontecendo pelo mundo todo.

1943 – O então presidente do país era Getúlio Vargas, chamado de o “pai dos pobres”.

1943- O mundo ia além do Sítio Novo, zona rural de Altamira onde nasceu Elizabeth.

1943 – O ano da promessa de vida para uma menininha de cabelos loiros e escorridos, o ano em que Deus sussurrou em seus ouvidos dizendo: - Vai, desce para a terra e vive feliz! Eu estarei contigo todos os dias de tua vida, não tema a morte, depois dela a vida continua.

De 1943 até os dias de hoje, Elizabeth também tem vencido as suas guerras, rebatido os “torpedos” e “submarinos” que tentam aniquila-la, vive sem medo da morte ou má sorte, ficou viúva de seu grande amor depois de 49 anos juntos, venceu uma dengue hemorrágica, um câncer invasivo, ainda tem diabetes oscilante e por conta da doença toma insulina duas vezes ao dia. O diabete às vezes quase a sucumbe, mas em outras, ele leva um xeque mate de mamãe. A sua fé vai muito além do que imaginamos. O seu olhar altivo nos enche de prazer e orgulho, Betinha veio, viu e venceu.

2017 – 25 de fevereiro – Com ela aprendi tantas coisas e continuo a aprender. Uma das lições que trago comigo é: Não deixar para amanhã o amor que podemos dar hoje; fazer festa em vida, dar flores enquanto vivemos porque depois, nada mais valerá, os mortos não ouvem e nem cheiram as flores colocadas em seus caixões.

2017 – O tempo é agora, parabéns, Betinha, por seres a escolhida de Deus para a minha vida, enquanto tiver vida, serei eternamente grata. Obrigada por seres a minha mãe. Feliz aniversário, que vivas o tanto ou mais que a rainha Elizabeth. “Deus salve a rainha”, a minha Elizabeth.