FINIS

Que saudade de ti, do teu sorriso,

Do teu olhar tão puramente santo!

Da silhueta virgem que eu diviso

Atravez das cortinas do meu pranto!

Sinto um deserto no meu coração...

Um deserto de gelo e desventura,

E a neve amarga da desilusão

O peito meu transforma em sepultura.

Que frio! Que silencio na minhalma...

Escuto o pranto astral do pensamento

Que pela noite lacrimosa e calma.

Chora a magua fatal do esquecimento.

Que saudade de ti, do teu amor,

Dos sonhos que sonhamos acordados,

Do teu sorriso candido de flor,

Dos castelos por nós idealizados!

Tenho saudade da saudade santa

Que eu sentia por ti! Tenho saudade

Da cor dos teus cabelos, e ela é tanta

Que me castiga assim sem ter piedade.

Que me resta na vida? Que me resta?

Somente a penitencia envenenada

De fingir, de viver na eterna festa.

Na orgia eterna que me leva ao Nada!

Vou viver, vou viver do meu passado!

Não me lamentes, não, por piedade,

Que o meu amor espiritualizado

Dorme nas mãos de neve da saudade!

Parnaíba – 31/08/1932

Envio para este site, outro poema do meu tio Vicente Fontenelle de Araujo. Ele foi tuberculose por muitos anos antes de falecer no final da década de trinta do século XX. Naquela época a tuberculose era uma doença extrema.

Penso como será a auto imagem de alguém que tem certeza da proximidade da sua morte?

Vi quando criança um retrato deste meu tio na sala do apartamento das minhas tias. Era o irmão mais velho do meu pai, mas morrera quase trinta anos antes do meu nascimento... ele estava naquele retrato e o homem do retrato parecia um desenho azulado e parecia sorrir envergonhado.

Paulo Fontenelle de Araujo

Paulo Fontenelle de Araujo e VICENTE ARAUJO
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 01/11/2017
Reeditado em 07/04/2020
Código do texto: T6159340
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