A RAPOSA VIDENTE (cordel infantil)

Boa tarde meninos e meninas,

Sejam bem-vindos a esta escola.

Sentem-se em ordem e silêncio,

Pois contarei em forma de verso

Uma história acontecida

Com uma raposa muito esperta.

Cansada de só caçar coelhos

Dona Raposina vivia vigiando

Um galinheiro de um fazendeiro

Zeloso de sua propriedade.

Raposina arquitetava planos

Mas das galinhas, só o cheiro.

Um dia a natureza resolveu

Colaborar com dona Raposina

E fez desabar um forte temporal

Que arruinou o sólido galinheiro

Da fazenda do senhor Agostinho.

Derrubada a casa, as galinhas

Espalharam-se pelo denso matagal.

Sabedora do fato, Raposina resolveu

Que era hora de tirar de sua boca

Aquele gosto ruim de carne de coelho.

E foi para o mato em busca das galinhas

Já planejando o farto jantar que faria.

Caminhou, farejou e nada das penosas.

Cansada voltou para sua toca dizendo:

- Vamos aos coelhos porque ninguém

Neste mundo merece dormir com fome.

Amanheceu o dia e a procura continuou

A noite chegou e nada de galinhas.

Ouvindo a conversa dos outros animais

Raposina soube que as galinhas estavam

À procura do caminho para voltarem

À fazenda Três X de onde elas saíram

Na noite escura do grande temporal.

A raposa, agitada, bolava mais um plano.

Pensou muito e olhando em volta da toca

Viu uma tábua quadrada e teve a ideia:

- Já sei! Farei uma placa com os dizeres:

“Perdeu seu caminho? Raposina, a vidente

O encontra para você. Consulta grátis.”

E colocou a enorme tábua ao lado da toca.

Cansadas de caminhar sem rumo, as aves

Resolveram consultar dona Raposina.

E fizeram uma fila. Na frente ia Teodoro

O galo chefe cantando um, dois, três, quatro

Motivando pintinhos e galinhas mais velhas

A caminharem rápido. Era preciso chegar

Antes de a noite estender seu negro véu

E como sabem galinhas dormem cedo.

Enquanto isso na fazenda, Agostinho

Preparava seu mais forte e esperto cão

Para sair em busca de suas belas galinhas.

Subiram e desceram morros e nada viram

Até que o cão começou a farejar inquieto.

O fazendeiro soltou o animal com a ordem:

- Não me volte sem as minhas galinhas.

O cão Spartacus, em desabalada carreira,

Foi cumprir a ordem dada pelo patrão,

Mas no caminho encontrou a dona Paca:

- O amigo canino está neste mato perdido?

Não se preocupe Raposina, a vidente,

Achará seu caminho de volta. É só consultá-la.

Spartacus ficou intrigado com aquela história

E foi até a toca da raposa para averiguar.

- Ah, malandra! Então é assim que quer pegar

As galinhas do meu patrão, pois receberás

Tudo que mereces pelo engodo bolado.

Encontrando-se com as galinhas bem perto

Do consultório da raposa vidente

O cão expôs ao galo o seu plano.

E chegaram finalmente à toca de Raposina.

De lá de dentro vinha a voz fina e rouquenha:

- Entrem minhas belezas, minhas lindinhas.

Raposina, a vidente, sentada em uma pedra,

Tendo na cabeça um véu azul com estrelas,

Só via diante de seus olhos frangos e galinhas

Todos assados sobre a pedra em que sentava.

A saliva escorria pelo canto de sua bocarra

Quando o primeiro cliente entrou dizendo:

- Quero achar o caminho da fazenda.

Acordada do seu sonho de comer galinha

Ela deu de cara com o cão Spartacus.

Sabendo que na luta ela levaria a pior,

Raposina saiu em desabalada carreira

Deixando o véu e a placa de vidente.

Dizem os bichos que quando perguntam

Se ela ainda gosta de galinha assada

A resposta é que galinha não tem carne nobre

Como a dos coelhos que ela come todo dia.

21/04/13

(história que contava para o meu neto)