O batizado de Miguel Taino

Foram duas semanas de preparação para um único e marcante dia do batizado de Miguel. Na semana Samanta e eu saímos para comprar a roupinha dele, Michel se encarregou de convidar as pessoas, Alice ajudou a arrumar a igreja e tudo isso fez com que minha briga com Michel ficasse de lado, ao menos por algumas horas. E aos convidados, cerca de 30 pessoas entre amigos de Michel, parentes mais próximos, vizinhos e amigos do trabalho foi disponibilizado um churrasco que foi totalmente pago pela mãe de Bernard, além de oferecer o quintal da casa dela, pela questão do espaço. Ela fez questão de participar ativamente, como se representasse o filho. Acabou sendo ótimo tê-la presente, o que foi uma surpresa para nós.

Um dos momentos mais emocionantes, que aconteceu antes do batizado foi Michel convidando Samanta para ser a madrinha. Nós já tínhamos decidido antes, mas decidimos fazer uma surpresa. Ela chorou emocionada dizendo que se sentia honrada pelo convite. E foi uma escolha muito mais do que certa.

Depois da igreja, enquanto Alice instruía o pessoal da churrascaria no quintal da casa, Michel com o filho no colo, fazia presença entre os convidados, eis que vejo uma situação que me chama a atenção na cozinha. Samanta limpava uma mancha de vinho no uniforme do rapaz com um pano, visivelmente embaraçada.

- Hã... Desculpa, nossa, me desculpa mesmo! – Me encostei na parede que dava acesso ao quarto para acompanhar a conversa. – Eu sou um desastre.

- A moça apesar de desastrada é muito bonita.

- Obrigada.

Era um rapaz bem bonito, a pele morena e os cabelos crespos, no estilo black power. Tinha um sorriso confiante, assim como a cor dos olhos, um castanho bem claro. Era um pouco mais alto que Samanta e parecia surpreendentemente atraído pela babá.

- Como você se chama?

- Samanta! E você?

- Luan. Muito prazer, Samanta.

Ela se afastou ao perceber o tom de voz dele, inteiramente galante. Luan acenou com a cabeça e seguiu rumo ao quintal, para servir aos convidados.

- Hum... – Me aproximei, sorrateiramente. Samanta me olhou, tímida. – Acho que o rapaz está interessado em você.

- Ai, dona Malu! Para de ser boba...

- Ah, qual é! Você sabe que ele está sim afim de você.

- Eu não sei de nada não!

Michel apareceu na cozinha segurando o Miguel, que tinha um pedaço de bolo na mão e o rosto todo sujo de chantilly. E claro, absurdamente alegre.

- Sam, dá uma seguradinha no gorducho aqui? Eu preciso descansar meus braços. E ele está terrível!

- Ahh!! Como sempre! – Sam o pegou no colo e saiu da cozinha. Ela sabia que na verdade Michel queria falar comigo.

Covardemente fiquei de costas para Michel, fingindo lavar um copo na pia.

- Eu acho que não disse isso, mas você está muito linda nesse vestido.

Ele surgiu atrás de mim, colocou uma garrafa com água na pia e tirou o copo da minha mão, lentamente. Seus olhos me encaravam, me estudando. A mão livre foi para a minha coxa, subindo pelo vestido.

- Obrigada. Michel, olha...

Michel bebeu a água calmamente enquanto me olhava. A postura dele me deixava ainda mais nervosa, se possível. Ele colocou o copo na pia e pressionou os nossos corpos. Minha mão foi para os seus cabelos e eu o puxei para mim.

- Eu não quero brigar, Maria Luíza.

- Eu também não, você sabe disso.

- Estou tão feliz. Quer dizer... – A mão segurou meu rosto. – Falta o Bernard aqui, mas eu sei que onde ele estiver está muito feliz também.

- Sim, ele está.

Houve aquele curto silêncio, seguido de um beijo leve, sem muitas pretensões. Uma mão boba erguendo meu vestido, outra mão fugindo dessa carícia marota, até que ele me olhou, triste, como se quisesse pedir para eu não ir para a Alemanha, mesmo sabendo que não podia me impedir. Era tão lindo.

- Eu amo tanto você. – Declarei, naturalmente. – Tanto.

- Se você continuar se declarando assim eu juro por Deus que vou ter que te agarrar no banheiro.

- Para, estamos numa festa.

- Eu queria que isso bastasse para você, mas...

- Shh... – Eu o silenciei com um beijo. – Isso é mais do que eu já tive em toda a minha vida. E é até mais do que eu mereço.

- Opa!!! Licença! - A mãe de Michel entrou na cozinha com Miguel no colo e Samanta ao seu lado. – Temos que registrar esse momento! Sam, você tira a foto?

- É claro!

Alice me deu Miguel e nos posicionou de modo que ele ficasse no meio, entre eu e Michel. Ela ajeitou meu cabelo, arrumou o cabelo do filho e voltou para o lado de Samanta.

- Mi?? – Alice o chamou. – Cadê o bebê da vó?

Totalmente apaixonado pela vó, Miguel não apenas a olhou como ainda sorriu na hora exata do “click” da foto tirada por Samanta.

- Como vocês são bonitos juntos, meu Deus! – Ouvimos Samanta dizer, com admiração e claro, uma cutucada leve para mim.

- Deixa eu ver a foto, Sam.

Ela me passou a câmera fotográfica.

- Maliza... Papa – Miguel apontou para a câmera, enquanto eu olhava a foto num silêncio longo. De fato, a foto ficou maravilhosa. – Mamamae...

Todos nós entramos em silêncio ouvindo Miguel. Alice colocou a mão no rosto, emocionada. Samanta deu um sorriso para o pequeno.

Miguel direcionou seu olhar para o pai.

- Mamã?

- Sim, filho. Mamãe.

Senti a primeira lágrima descer pelo meu rosto e não consegui me controlar. Michel me abraçou de lado, protetor. Segurou a mãozinha do filho, carinhosamente. Ali tinha formado algo que era muito mais forte, eterno e melhor que qualquer oferta de trabalho fora do país. Ali se formava a MINHA família.

(...)

E mais tarde...

- Ernest? Sou eu, Maria Luíza. Agradeço o convite, muito mesmo, mas eu não quero ir para a Alemanha. Tenho uma família aqui no Brasil. E eu quero estar ao lado deles. Obrigada por tudo.

Guardei o celular no bolso. Não havia outra escolha a ser feita além dessa.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 23/01/2017
Reeditado em 08/06/2022
Código do texto: T5890815
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