Minha autognose

Eu não sei se ao caminhar pelo íntimo dos nossos pensamentos encontramos paz ou turbulência. Talvez ambos. Há dias em que a sensação é de que nada abalaria nossas bases; em outros, parece que não fomos feitos sobre alicerce algum. Há dias em que nos sentimos a própria rocha; há outros em que parecemos um castelo de areia esperando que o vento ou onda do mar lentamente nos desconstrua. A viagem para nosso interior é uma aventura e, creio eu, uma obrigação.

"Conheça-te a ti mesmo". Já dizia o sábio (um deles, já que não se tem certeza se Tales, Sócrates, Heráclito ou Pitágoras, rs... Alguém disse. Ponto. Rs. Pode ter sido até mesmo o pintor ou letrista que a estampou na entrada do templo de Delfos. O importante é que está aí uma das nossas mais importantes tarefas)...

Não creio que conhecer a mim mesma seja a coisa mais importante a fazer em toda a minha existência. "Conhecer a Deus e descobrir o caminho que Ele deseja que eu siga" expressa bem o que acredito ser o mais importante. É maktub para mim.

Acontece que não sei como poderia ser possível cumprir a grande missão da minha existência sem obter êxito naquela que ao meu ver é a segunda mais importante: conhecer-me a mim mesma.

Há cerca de quatro anos, decidi buscar em mim aquilo que me faz ser eu mesma, compreender-me, saber minhas fraquezas, minhas virtudes, descobrir quais são meus maiores medos e desejos, os mais secretos... E a cada novo aprendizado, crendo ser eu filha de Deus, e tendo em mim, guardados no coração, os preceitos da Sua palavra e os ensinamentos do Seu Espírito Santo, criei para mim mesma a responsabilidade de diferir nas evidências aquilo que seja meu eu daquilo que tenho aprendido sobre meu Pai. Percebo, em alguns momentos, que somos tão distintos em nossa natureza que não vejo como poderia ser tão difícil categorizar tais evidências. Mas também pra isso encontrei uma resposta. A dificuldade não está para mim realmente no exercício de categorizar os "meus eus", diferenciando-me da essência perfeita do Pai. Parece que para mim a dificuldade é o que fazer com essa informação depois da análise. Como deparar-me com essas descobertas? Essas evidências me mostram realmente quem sou? Se tirar o Pai de mim, a parte da Lívia que fica é forte ou fraca? Quão forte? Quão fraca? Pode ela lidar com as forças que militam contra ela? Essa Lívia tem conhecimento humano suficiente para viver bem e viver só, se necessário for? Se ela fosse a última pessoa na Terra, conseguiria conviver em sua própria companhia? São apenas algumas das perguntas que me faço.

Não tenho resposta para todas. Não ainda. Mas das respostas que (creio) já encontrei, posso concluir que o discernimento de "o que sou eu" e de "o que é Deus em mim" revela a total dependência que necessito desenvolver para com Ele. A Lívia que fica quando O considero à parte nunca poderá ser assim tão forte que possa vencer a todas as forças contrárias, ou tão fraca que possa reduzir-se a nada e ser completamente cheia por Ele. Até mesmo o humilhar-me e diminuir-me para que Ele cresça e Ele brilhe são consequências do agir do Seu Espírito. Até mesmo a fé, não é? "Não vem de vós, é dom de Deus" (Efésios 2.10).

Esses paradigmas que eu mesma crio em minhas autorreflexões não são verdades absolutas. São apenas a verdade que construí com a análise daquilo que constatei conhecer até o presente. Preciso descobrir se são verdadeiros, se podem reger minha vida pelos próximos anos. Para tal, me faz necessário continuar o exercício. Acredito que quanto mais me conhecer, quanto mais conhecê-Lo, mais perto da verdadeira verdade estarei.

Pense por um minuto: se sempre refletíssemos sobre quem somos, o que fazemos, as consequências de quem somos e do que fazemos para nossa própria história e para a história do mundo, não parece racional que nossas escolhas sempre seriam mais assertivas e (não encontrando uma palavra adequada, usarei esta - que creio não exista, rs) "acertivas"? Digo isto, porque somos demais preocupados com o certo e errado e, por isso, nem sempre conseguimos tomar decisões. Uma pessoa assertiva certamente se conhece o suficiente para conseguir decidir de fato e agir para a decisão tomada; dessa forma, me parece serem bem maiores as chances de acertar nesta decisão - devido ao autoconhecimento.

Eu gostaria de viver em um mundo melhor e... eu gostaria de ser melhor para o mundo. Esses pensamentos aqui são devaneios dessa poetisa que se retira às vezes para seu interior, mas, como boa artista, acaba expressando ao mundo aquilo descobriu existir ou não existir nessas aventuras secretas. O texto veio sem rimas, sem padrões, sem expectativas e, para muitos, até mesmo sem sentido. Mas alguém que esteja nesta mesma jorgada poderá encontrar algo que lhe conforte, meramente pela identificação de algumas evidências.

Assim, me despeço de vocês por enquanto, já que comigo mesma a convivência é contínua.