O CAMINHO DAS PEDRAS

Trabalha o teu poema à exaustão, não o largues no leito da estrada ao vento e à chuva, senão quando estiveres cansado de dizê-lo em voz alta e a tua própria voz já te possa molestar devido à monocórdica repetição. Este exercício pessoal e intransferível é que te fará poeta. Sem ele, sempre serás apenas um amadorístico diletante. E o amador é este tipo humano a que qualquer compartilhamento satisfaz, porque vive embasbacado com a simples constatação das surpreendentes vertentes da Poética. Em regra, devido ao medo das infecções virais e de outros meridianos sensórios, este passageiro do trem da vida ainda nem ousou fruir um gole de água da cacimba da Criação. E lê muito, muito, mais e mais... Se te achas poeta, degusta o silêncio e o assovio dos pássaros, acrósticos, haicais, trovas literárias, pensamentos, sonetos, poemas. Entra dentro deles e busca encontrar a chave do mistério de cada um. Então, provavelmente a Poesia vai te escolher como parceiro.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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