FELIZ NATAL PARA TODOS
 
 
 
Natal, uma época supostamente de abastança e alegria… Mas será que a quadra não vai mais além em termos humanos? Será que quando nos sentamos à mesa, recheada de iguarias, até enjoar só de olhar, nos lembramos de quem tem apenas migalhas como refeição? E os doentes? E os indigentes, será que nos lembramos deles naqueles momentos em que nos instalamos confortavelmente, em amena cavaqueira com familiares, empanturrando-nos com os doces natalícios? Pois é, esta quadra deve ser de felicidade… Mas o sentimento de maior bem-estar deve ser dado através da solidariedade, desse gratificante sentimento que adquirimos quando ajudamos os outros, quando sentimos que demos a nossa substancial contribuição para a felicidade de alguém… Por isso, se puder, estenda a mão, tenha um gesto de carinho e fraternidade. Creia que esse acto fará a diferença e iluminará o seu coração.
 
Deixo-vos com este meu conto, em reedição, que penso apropriado para a quadra que atravessamos.
 
Desejo a todos um santo e tranquilo Natal, pleno de amor, saúde e paz interior.
 
Fiquem com Deus.





















 
 
 

 
UM CONTO DE NATAL
 
 
Luís chegou a casa ao fim da tarde. Pendurou o cachecol no cabide junto à porta, tirou o sobretudo cinza escuro, gasto e puído. Catarina olhou-o da cozinha e soltou um pequeno grito de surpresa.
- Que embrulhos são esses?
- São algumas compras que fiz, é véspera de Natal…
- Mas…onde arranjaste o dinheiro? - E foi tirando os pacotes de um dos sacos de plástico que Luís transportara. Havia três, de diferentes tamanhos. Luísa abriu um, continha uma camisola de gola alta azul escura, fofinha, pelo tamanho percebeu que era para ela. Olhou o marido, sem palavras… Depois abriu o segundo, era um frasco de perfume, o seu preferido, aquele que há meses deixara de comprar logo que a empresa onde trabalhava falira e a deixara no desemprego. Olhou de novo para o marido. Ia a abrir o terceiro embrulho quando ele a deteve, apontando para uma pequena figura, o seu filho, que brincava com peças Lego sentado no sofá da sala.
- Esse é para o nosso filhote.
Catarina deitou-lhe os braços ao pescoço e beijou-o, enternecida. Depois entraram na sala e abraçaram o seu filho querido, dando-lhe mimos e pequenos beijos, que o fizeram sorrir e gargalhar, feliz.
Ela pegou no embrulho e deu-lho. Ele abriu os olhos límpidos, percebendo que se tratava de uma prenda. Ajudaram-no a tirar o papel, surgindo à luz artificial do candeeiro de teto um carro telecomandado.
O pai, através da linguagem gestual, explicou-lhe como funcionava, colocou as pilhas e pousou-o no chão, dando-lhe o comando. O petiz sorria, tendo pequenos sobressaltos quando o carro embatia em algum obstáculo. Batia as palmas e olhava o pai, agradecido, que lhe devolvia o sorriso, feliz por ver o filho assim feliz.
Entretanto, Catarina pegou nos outros dois sacos e levou-os para a cozinha, pois adivinhou produtos alimentares. Tirou um pequeno peru de um dos sacos e algumas caixas com doçarias e uma garrafa de bom vinho do Porto.
Pousou tudo sobre a mesa, olhou para aquelas iguarias e depois, discretamente, postando-se na ombreira da entrada da sala, fez sinal ao marido, chamando-o discretamente.
- Olha lá, ainda não me disseste onde arranjaste dinheiro para comprar tudo isto!
Ele olhou para o chão, demorou a responder. A ponta do seu sapato gasto torneou a orla do tapete, como que procurando uma saída.
- Então?
- Vendi a minha aliança. Ou melhor, coloquei-a numa casa de penhores. Mas não vou ficar sem ela, garanto-te. Vou pagando juros e um dia, quando pudermos, vou lá buscá-la de novo.
- Luís… - Catarina encostou o rosto ao peito dele, ocultando duas grossas lágrimas que lhe rolaram pela face.
- Bem vês, hoje é véspera de Natal e eu não suportaria que vocês ficassem prIvados de uma prenda nem de uma refeição de jeito…
Ficaram assim abraçados durante algum tempo, olhando o filho, que brincava, feliz, sobre o tapete da sala…




 
DEZEMBRO DE 2013





 


 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 18/12/2014
Reeditado em 19/01/2015
Código do texto: T5073965
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