Budismo: Existe o Verdadeiro Amor?

Quando falamos de amor, será que sabemos o que dizemos?

Amor é uma expressão e um anseio muito comum que pode ser entendido como estado de sintonia e profunda boa vontade com alguém em especial ou com os seres em geral. Este estado gera alegria e bom ânimo. Desta forma surge a preocupação com o bem estar do outro e o desejo de cuidar. Há um trecho de uma música de Caetano Veloso que fala “quando a gente ama é claro que a gente cuida”. Bem, no budismo falamos em amorosidade incondicional, isto é ilimitada, não excluindo nenhum ser senciente do nosso “desejo de cuidar”.

Você pode dar a este estado de ânimo um nome qualquer, mas a nossa preocupação não se refere a nomenclaturas, mas sim a qualidade da relação entre os seres. Dizia W. Shakespeare “se mudarmos o nome da rosa, seu perfume permanece o mesmo”, esta frase é digna de um mestre budista. Vamos examinar a questão verificando quais conceitos estão embutidos no sentimento de amorosidade. O primeiro deles é a empatia.

Mas o que seria esta empatia?

Empatia é um sentimento de proximidade ou sintonia. É o ver-se no outro e sentir profundamente “somos um”, cultivando intenções puras e desejo sincero de cuidar.

Um outro conceito é o da compaixão. Ser compassivo é preocupar-se com a aflição dos seres, mas isto é diferente de piedade. Aqui não existe a figura do “piedoso”. Na compaixão todos os seres reconhecem-se iguais e reconhecer esta condição gera estados de verdadeira e profunda afetividade, pois afinal “sua dor é a minha dor”. O amor é o melhor perfume do jardim das relações humanas. Se a terra fosse um imenso jardim teríamos como opção transformarmos em ervas daninhas ou flores. Poderíamos ser como flores exalando excelente perfume. Sobre este raro perfume podemos cogitar que:

• Amar é cuidar das feridas do outro, não é feri-lo ainda mais.

• É ser empático e amoroso tocando as “demais flores” com toda delicadeza, considerando que tocá-las com ganância e raiva pode esmagá-las.

• Amar é desistir de odiar, não mais comportando- se como planta espinhosa que arranha impiedosamente a quem se aproxima...

As pessoas dizem “amei, mas agora odeio”, contudo o ódio só pode matar um amor falso. Se o amor for verdadeiro a má vontade será desfeita...

O ódio nasce quando barganhamos com as pessoas e nos sentimos no prejuízo. Neste caso a relação era de comércio. Por isso “eu te amo” é uma frase que muitas das vezes ecoa em nossa boca e em nossos ouvidos, mas isso nem sempre é sincero. É raro alguém saber o que diz e “dar afeto” sem exigir alguma recompensa.

Repito que no budismo procuramos desenvolver empatia em favor de todos os seres sencientes. Saber que todos os seres sentem dor e querem ser felizes pode gerar um contínuo estado de amorosidade. Existe uma passagem bíblica bastante pertinente ao assunto.

“Duas mulheres foram até ao Rei Salomão, querendo que ele resolvesse uma disputa. Ambas diziam-se ser a mãe de uma criança.

Ouvindo as mulheres em gritaria, o rei chamou um guarda e disse para ele partir a criança ao meio e dá a metade para cada uma delas.

A primeira mulher bradou que era melhor receber metade de meu filho morto, que dá-lo vivo para alguém. A segunda mulher, disposta a renunciar disse que a criança deveria viver e poderia ser dado a outra,mesmo que jamais pudesse vê-lo novamente.

Ouvindo isso, o rei deu a criança a esta mulher, mandando castigar a outra.”

Amor é isto, em algumas ocasiões envolve uma aparente perda. Há pessoas que só querem ganhar e não admitem perder, preferem ver o outro destruído que ficar sem ele, contudo, o amor verdadeiro dá asas e não algemas; cura, jamais envenena. Focar no “eu” é focar na ganância, focar no “outro” é fazer doação. Estamos tão confusos e iludidos que vivemos como se fôssemos o centro do mundo, mas nesse estado de apego, como podemos nos doar?

O que podemos fazer para tornar as pessoas felizes?

Eis uma boa pergunta que cada um pode responder-se.Se a felicidade alheia nos torna felizes, então estamos amando de verdade...

Cultivar amorosidade é “dar vida” a si e aos seres, cultivar a ganância e a raiva é matar-se lentamente...