Reencontro

 
                       Pode relaxar... a responsabilidade sobre o mundo não está apenas em uma cabeça. Andar sobre a Terra já é um milagre suficiente.

                       Esta é a história da mulher que enlouqueceu com o luto. Quando a menina morreu, ela recusou-se a aceitar. Carregou seu corpo de casa em casa pedindo remédios. Os vizinhos não sabiam o que dizer ou como ajudar. A mãe recusava-se a acreditar que a garotinha se fora.
 
                       Um dia, mil anos mais velha....  andando pelos longes dos abismos, a mãe reencontrou a filha — um longo-róseo-fantasma, caminhava em luz, órbitas vazias, pés descalços. Desfazia-se e de novo se recompunha. O corpo em posição esquisita. O frio? Um quente olhar sem-olhos varou, perscrutante, o fundo da mente materna. Vento finíssimo arrepiava as folhas secas, tocava cabelos que não mais havia, coisa morta e definitiva. Na mão, a flor restante.

                       A mulher afastou-se mais triste e contundida ainda. Compreendeu então. A dor tinha que ser destruída...  Vontade de lutar? Possibilidade de crer? Tudo findo.

                       Suave música a precedia e enchia as paredes de pedra de fundas e doces vibrações. Ah! Saudade! As mesmas paredes começaram a esmagar a esperança, sem dor nem sustos. Montanhas ruindo na boca, montes rotos estatelados, destroços surdos. Grossas nuvens tapando o céu em clima indefinido.

                       As recordações foram se perdendo na imensa gélida caraça branca estagnada. A mãe pegou a máscara no chão, vestiu-a. As esferas vazadas a assistiam como a um ritual derradeiro de uma cadeia de sonhos desfeitos a se cumprir irremediavelmente. Um montículo de pó.

                       Morte violenta, destroçada, em mil partes partida, em grito e sangue...


 

 
Fheluany Nogueira
Enviado por Fheluany Nogueira em 16/10/2017
Código do texto: T6144457
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