A saudade bateu aqui mais cedo...

A lembrança atendeu a saudade:

_Perdoe-me, tu estavas a dormir e eu não queria perturbar os teus sonhos, eu que te acariciei para que o sono te chegasses...

Recebi a saudade na sala de estar.

Mesmo aborrecida pela interrupção, pois quando ela chegou eu estava a revirar as suas coisas procurando aquela fotografia, sabe? Para ajudar-te lembrar. A propósito encontrei um par de roupas e um calçado, o perfume está intacto em uma camisa, tu tens que sentir!

A saudade é extremamente confusa, mas me senti confortável com ela, ela falou que queria te acordar e não te deixar mais repousar, que os dias já se passam e ela precisa fazer o que lhe é aprazível, disse que ela jamais erra de endereço e que ao retornar trará a melancolia junto com ela... A saudade é triste, tem uma expressão sombria no olhar, que loucura! Tu não a esperavas, certo? Mas ela falou que queria a minha amizade e que eu só estava hospedada contigo por causa dela... A respondi e concordo em dividir o quarto com ela e a tal da melancolia, espero que não se incomodem com o cheiro da fumaça do meu cigarro.

E claro, não posso esquecer... A saudade deixou-te um bilhete, está ali em cima da escrivaninha:

"Serei tua companheira em tuas 24 horas dos teus vis dias e mesmo que tentes de mim escapar, eu irei contingo para onde fores e aos domingos serei mais presente que o vento que adentra silencioso por tua janela do aposento, estarei contigo no calar da voz ou no barulho, no breu ou na luz... E principalmente quando fores repousar, te despertarei nas madrugadas, inflamarei a tua enferma alma e em demasia chorarás. Não sou cruel, sou nascida das dores, sou uma flor que brotou nas pegadas passadas e regada por lágrimas de alguém que chorou por um amor." Se quiseres fazer um tanto imperceptível a minha amarga presença, se convenças que precisas preencher todos os momentos de teu dia até que para mim não sobre tanto espaço para eu não açoitar a teu coração... Eu, a saudade, não sou bela. Não te espantes ao me ver chegar. Eu, a saudade, sou aquela que vem e não se sabe quando partirá, sei ser envolvente, nada atraente... Eu, a saudade, só sou bela se for poeticamente."

Até!

Sâmya Costa
Enviado por Sâmya Costa em 15/10/2017
Reeditado em 15/10/2017
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