Capítulo cinco

Leo ainda estava acordado e tentava tirar alguma informação de sua mãe, mas isso se dificultava pois desde esta manhã quando ele a contou o que havia acontecido na casa de Amelia, a mãe se recusava a falar com ele. A única vez em que a mãe se comunicou com ele foi para o mandar pedir desculpas aquela menina.

Pensando que com isso a mãe aliviaria a tensão, fez o que ela pediu, mas de nada adiantou, pois a mãe continuava a evita-lo e não o direcionava mais do que cinco palavras quando se viam.

Quando ela disse estar saindo e que só iria voltar à noite, ele aproveitou para entrar em seu escritório e procurar informações sobre as tais dívidas ou sobre o comprador da loja. Já estava aborrecido o bastante e ainda teve que atender o telefone e falar com aquela garota, que ainda por cima não falou nada sobre o seu pedido de desculpas, mas disse que aceitaria vir no domingo. Ele a achava muito petulante e aquela ligação o aborreceu ainda mais, o que deixou mais difícil tentar encontrar alguma coisa. Ainda ficou vasculhando por mais de uma hora e tudo o que conseguiu encontrar foram antigos recibos de pagamentos e compras, mas nada que indicasse que ela estava com problemas financeiros.

Deitou-se no sofá da sala, cansado e aborrecido. Ele queria descobrir o que estava acontecendo com sua mãe, mas já que não conseguia encontrar nada na casa, achou melhor esperar até o dia seguinte para que passasse aquela raiva e ela quisesse conversar.

Ao meio – dia foi até a editora em que trabalhava e era sócio só para entregar alguns papeis e fazer algumas formalidades que não podem ser feitas de casa. Ele preferia trabalhar em casa, pois achava mais sossegado, mas agora provavelmente teria que mudar isso porque sua mãe o obrigara a contratar aquela garota como sua assistente e ele não queria ela perambulando em sua casa o dia todo.

Depois de passar a tarde na editora, resolveu ir num café que gostava de ir próximo ao cinema da cidade. Tomou um susto ao ver quem acabara de entrar no cinema. Aquela garota o estava perseguindo? Mas ele não demorou por ali e foi embora imaginando porque Amelia estaria entrando num cinema desacompanhada numa noite de sexta-feira à noite.

Chegando em casa, apenas deitou-se no sofá novamente e assistiu TV até ouvir sua mãe chegar e perguntar se alguém havia ligado. Ele avisou que Amelia havia ligado e a mãe logo se prontificou de ligar de volta. Ele ficou ouvindo, esperando para saber o que as duas iriam conversar. Ouviu quando a mãe falou sobre ele, se irritou e acabou falando grosseiramente com sua mãe. Não queria que a sua nova assistente ficasse fofocando sobre ele por telefone, mas também não queria brigar novamente com sua mãe. Ele então desligou a tv, subiu para o quarto e foi para a internet pesquisar sobre essa tal Amelia Clark. Queria saber qual era a história daquela garota e porque ela despertou tanto a afeição de sua mãe.

Digitou o nome na barra de pesquisa do navegador e apenas apareceram fotos e notícias de diversos sites locais sobre um acidente de carro de Eliot e Ana Clark, que ao que parecia, eram os pais de Amelia. Clicou em cima da matéria e começou a ler.

“Acidente fatal deixa pai e mãe mortos”

21 de junho de 2012

Um acidente de carro fatal deixa pai e mãe mortos. As vítimas eram Eliot e Ana Clark, pais de Amelia Clark. Moravam na pequena cidade de Nova Ilha e estavam indo a um show fora da cidade quando, segundo testemunhas, o carro perdeu o freio e derrapou num barranco.

A polícia relata que o que causou o acidente realmente foi uma falha mecânica e que o motorista, Eliot Clark, não estava em efeito de entorpecentes.

A filha, Amelia Clark, de 17 anos, não estava no carro e ainda está em estado de choque, segundo fontes próximas. Ela deve ficar com tutores locais, já que a família de nenhum dos pais foi encontrada, até o final do ano letivo.

Aqui estão as imagens do carro.

Leo clicou nas fotos e de repente começou a se sentir culpado por ter agido daquela forma. Ficou se perguntando se sua mãe sabia sobre aquele acidente, mas se deu conta que sim. Foi aquilo que a fizera se afeiçoar tanto à Amelia. Ela tinha apenas 17 anos quando perdeu toda a família e provavelmente tenha desistido de procurar por outros familiares e acabou vindo parar aqui. Mas como?

Queria descer e perguntar a sua mãe, mas já estava tarde e a relação dos dois não estava nos melhores termos. Pensou também em procurar por Amelia, mas ela também provavelmente não queria conversar. Não que ele a culpe, pois foi ele quem começou aquilo tudo atacando a garota sem nem ter motivos reais. Então o que lhe restava era continuar procurando na internet.

Depois de vasculhar sites de notícias, foi para as redes sociais. Encontrou um perfil de Amelia, mas parecia que ele não era atualizado desde a época do acidente. Viu as postagens de amigos desejando-lhe força e oferecendo suas casas para ela ficar. Ela nunca respondeu. Será que ela sofreu na casa em que ficou? Será que fugiu quando terminou o ensino médio? Será que ela foi expulsa da casa em que estava? E o que acontecera com a casa de seus pais?

Sua cabeça estava explodindo com perguntas e queria muito que alguém pudesse responde-las, mas as duas únicas fontes que sabiam o que realmente aconteceu estavam inalcançáveis agora.

Decidiu deixar essa história pra lá. Amanhã, se tudo desse certo, sua mãe estaria com um humor melhor e poderia responder algumas perguntas, não só sobre Amelia, mas também sobre si própria e essas dívidas que a fizeram vender a loja.

Leo estava com muita coisa na cabeça para dormir, então resolveu ir lá fora, olhar para o céu, como sempre fazia quando estava triste ou confuso, como estava agora.

Ele tem esse hábito desde que seu pai morreu. Ele era um pouco mais novo que Amy quando aconteceu, 15 anos apenas, mas ele ainda lembra como se fosse hoje. O pai de Leo tinha problemas no coração e depois de passar mal durante uma discussão com Lúcia, teve de ser submetido a uma cirurgia de alto risco, que acabou não funcionando e ele morreu no dia seguinte.

Por anos, Leo culpou a mãe e descontou a raiva em todos que tentava se aproximar, mas com o tempo ele entendeu que não havia sido culpa de ninguém. E desde que ele morreu, Leo gosta de observar o céu, procurando pela estrela mais brilhante e conversa com o pai, como se ele ainda estivesse ali. E hoje, quase 8 anos depois da morte de pai, olhando pra essa estrela, ele foi desabafando, tentando achar uma solução pros seus problemas.

- Pai, acho que errei feio com essa garota. Ela não parece ser má pessoa e eu a tratei de uma forma agressiva, ignorante até. Não sabia de nada sobre ela e já fui presumindo o pior. Acho que eu procuro sempre o pior nas pessoas, pra não me decepcionar sabe? E agora, mamãe está escondendo algo e eu quero descobrir o que é para tentar ajudar, mas não sei como. Só quero que não haja segredos entre nós.

Ele ficou ali por um bom tempo, como se esperasse uma resposta, um conselho do pai, mas percebeu que nunca mais poderia receber os conselhos do pai, teria que resolver as coisas sozinho e a primeira coisa que iria tentar consertar era a impressão que havia deixado em Amelia.

Decidiu que iria pela manhã na casa dela e então voltaria para casa e dizer a sua mãe como tinha se desculpado e também consertaria tudo com sua mãe. Então foi dormir, satisfeito com a solução que havia feito.

rAven
Enviado por rAven em 24/07/2017
Código do texto: T6063257
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