LEO II - TRATO - CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 14 – TRATO

Em seu quarto, Leo havia deitado na cama e não falou nenhuma palavra. Haroldo, sentando numa cadeira perto dele, não sabia o que fazer para animar o amigo.

- Leo, não fique assim, cara. Tome um banho, relaxe, durma um pouco. Parado aí você mais parece um... zumbi!

- Eles bem que tentaram... ele falou em voz baixa.

- Que foi que aconteceu lá? Você reagiu à prisão?

Leo balançou a cabeça negando.

- Nem reagiu?

- Não... Nenhum palavrão... Nada... Eu não fiz nada... Foi a primeira vez que eu fui preso por motivo nenhum, Haroldo. E você sabe que aquela cadeia já me conhece bem...

Ele sorriu triste. Uma lágrima rolou pelo canto de seu olho e foi cair no travesseiro.

- Eram cinco... Cinco! Tiveram o cuidado de me bater no corpo inteiro, menos... no rosto e nos braços... pra não deixar vestígios... marcas visíveis...

Leo suspirou dolorido e engoliu o choro.

- Odeio essa gente!

- Tudo isso pela Gilda? – Haroldo perguntou, penalizado.

- É o que está valendo a pena... se não fosse por ela, eu já tinha voltado lá e metido uma bala na cabeça de cada um deles...

Ele se levantou e foi até o piano. Sobre ele, muitas fotos suas em porta-retratos colocados pela mãe antes de morrer. Ele pegou um deles, quebrou a moldura e tirou a fotografia. Justamente a que tirou dias antes da morte dela.

- Haroldo, me faz um favor? Entrega isso a ela... e diz que eu... vou cumprir o nosso trato. Ela sabe qual é. Diga que eu estou bem e que passo na escola na sexta-feira.

- Pode deixar, Haroldo disse, apanhando a fotografia.

- Obrigado pelo que você tem feito... Não vou poder te pagar nunca...

Samuel abriu a porta do quarto e entrou.

- Haroldo, eu gostaria de falar a sós com meu filho, por favor.

- Ele vai sair quando eu quiser, Leo disse, sem se alterar.

Vendo que a situação ia ficar difícil, Haroldo disse:

- Eu já estava mesmo indo embora. Você precisa de mais alguma coisa, Leo?

- Não, obrigado de novo...

Haroldo bateu em seu ombro, demonstrando apoio e saiu do quarto. Samuel fechou a porta.

- Hoje foi pela Gilda... Espero que aprenda a lição.

Leo olhou para o pai surpreso do que já suspeitava, mas não tinha ideia de que o velho fosse confessar tão cedo.

- Ou você toma juízo, rapazinho, e se afasta dela de uma vez, ou da próxima vez, não vai ficar vivo pra contar a estória.

Leo conseguiu sorrir e dizer:

- Sim... papai.

Samuel não respondeu ao deboche e saiu do quarto. Leo colocou as mãos no rosto, sentindo o ódio explodir no peito. Sentou-se ao piano e começou a tocar.

*********************************

Leo e Gilda não se viram nem falaram mais, pelo resto da semana.

Alcântara percebeu que a filha estava um pouco mais triste, depois do que havia acontecido com o rapaz, mas acho que era normal, pois a moça não tocava mais no assunto e parecia calma como sempre.

Samuel Torres também estranhava o comportamento do filho. Leo passava grande parte de seu tempo no quarto, compondo, ou simplesmente deitado na cama ouvindo música.

Na tarde de quinta-feira, o velho resolveu saber o motivo de tal recolhimento. Ao entrar no quarto, viu Leo deitado em sua cama com um copo de uísque nas mãos, mas não estava bêbado.

- Se eu soubesse que uma surra bem dada fosse o suficiente para te deixar bonzinho assim, já teria feito isso bem antes, ironizou o velho, sorrindo.

Contendo-se, Leo não respondeu. Apenas bebeu mais um gole e lambeu os lábios, olhando para o pai.

- Vou dar uma chegada no sítio que eu comprei na estrada pra capital. Não quer ir comigo? Vai acabar enferrujando, se ficar trancado aqui por mais tempo.

Leo balançou a cabeça negando. Samuel chegou a pensar que o filho estivesse planejando alguma coisa, mas não adiantava forçá-lo a dizer nada. Conhecia Leo muito bem. O jeito era deixá-lo em paz e confiar.

- Volto cedo. Se a sua irmã ligar, diga a ela que traga o Lúcio aqui, no domingo. Estou com saudade do meu caçula.

Ainda em silêncio, Leo tomou outro gole. Samuel saiu.

O rapaz deixou escapar um suspiro e olhou para o copo, mordendo o lábio inferior. Então, subitamente, atirou o copo em seu próprio retrato na parede junto do piano. O vidro do quadro se quebrou inteiro e a moldura caiu.

LEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEO

TRATO - CAPÍTULO 14

Velucy
Enviado por Velucy em 10/10/2017
Código do texto: T6138133
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.