LEO IV - DOIS ANOS... - CAP. 9

CAPÍTULO 9 – DOIS ANOS...

Por dois anos não houve novidades na vida de na vida de Gilda e Haroldo. Embora vivessem bem, os dois não passavam de amigos vivendo juntos na mesa casa. O relacionamento dela com o pai havia ficado um pouco mais frio e distante e ela procurava sempre evitar falar ou se encontrar com Samuel Torres.

Bruno crescia bonito e saudável e era a única coisa que fazia a vida dela um pouco mais feliz. O menino ficava a cada dia mais parecido com o pai e ela passava grande parte do seu tempo livre com ele e seu olhar, às vezes, se perdia por longo tempo no rosto do garoto.

Leo raramente estava na cidade. Viajava muito e quando vinha para casa, raramente saía. Só Tiago ainda o visitava e, conhecedor profundo de seus pensamentos, tentava sempre ajudá-lo. Procurava também mantê-lo informado de tudo que acontecia com Gilda e seu filho. Leo queria saber de tudo sobre os dois, mesmo distante.

- Ele é muito lindo, cara! É a criança mais bonita da rua do doutor Alcântara, te juro! Sem nenhuma demagogia. É o garoto mais paparicado do bairro.

Leo sorriu sutilmente, orgulhoso, deitado em sua cama.

- Ele já anda, não é?

- Já, faz tempo. E é a tua cara!

- Queria tanto vê-lo... ele disse com um suspiro.

- Não é proibido circular pelas ruas da sua cidade, é? Você nem sai de casa, quando está aqui. Não tem aprontado nada. Todo mundo até já esqueceu que você existe... Acho que dá pra você passar por lá, discretamente, e como quem não quer nada, tentar vê-lo. A Gilda costuma ficar com ele na frente da casa deles, no jardim, à tarde.

- Não quero ver a Gilda, ele disse, ficando sério.

- Não gosta mais dela?

- Mais do que nunca... e é por isso mesmo. Não quero olhar de novo pra ela e lembrar que eu perdi dois sonhos...

- Mas vai ser meio difícil ver o garoto sem ela por perto.

- É... ele suspirou.

Leo sentou-se na cama e cobriu o rosto com as mãos, tentando pensar.

- O Haroldo continua trabalhando na repartição?

- Continua, mas o Gomes convidou ele pra uma sociedade na oficina dele, na Rua do Correio, mais perto da casa deles. Acho que ele vai aceitar. O antigo sócio do Gomes se mudou pra Campinas e vendeu a parte dele. Foi criar cavalos. O Haroldo está querendo ser o novo sócio da oficina.

- Como? Com que dinheiro? Ele sempre foi um duro...

- Ouvi dizer que ele vem economizando há muito tempo, desde que se casou com a Gilda. Você sabe que ele já tinha alguma coisa da herança dos pais.

- Eu sei, mas não era muito dinheiro não. Ele tinha que trabalhar para se manter. A única coisa de valor que ele tinha era aquela casa. Ele me traiu porque meu pai o ameaçou de arranjar a demissão dele na repartição. Ele precisava do emprego. Onde foi arrumar tanto dinheiro pra ter sociedade numa oficina como a do Gomes?

- Doutor Alcântara deve tê-lo ajudado a aplicar e administrar esse dinheiro, sei lá...

Leo levantou-se e andou até o piano, pensativo.

- Será que tem o dedo do meu pai nisso tudo? Ele pode estar querendo ajudar o Haroldo a progredir, pra não faltar nada pra Gilda...

- Será?

- Aquele velho depravado é capaz de tudo...

- Você não confia na capacidade do Haroldo?

- Não confio em mais nada que venha dele ou daquela família, muito menos acredito que meu pai não esteja torcendo praquele casamento dar certo. Eles se dão bem, a Gilda e o Haroldo?

- Aparentemente, sim.

- Saem juntos?

- Até saem, mas é estranho...

- O que é estranho?

- Eu nunca a vi sequer segurar a mão dele... Se você quer um consolo, Leo, tenho quase certeza de que a Gilda não dorme com ele. Eu nunca os vi se beijando e essas coisas que os casais fazem.

Leo olhou para ele com um brilho diferente no olhar.

- Por que você diz isso?

- Não sei... mas o Haroldo não me parece um marido muito feliz.

Leo riu alto e encostou as mãos no piano.

- Você é diabólico, Tiago.

- Pelo menos te fiz rir, não é?

Leo colocou as mãos nos bolsos e encostou-se no piano.

- Topa ir comigo até a rua da Gilda?

- Na casa do Haroldo?

- É claro!

- Você não vai arrumar confusão, vai?

- Não, claro que não! Você mesmo não disse que eu estou comportadinho? Eu só quero ver meu menino.

Tiago sorriu.

- Você fala “meu menino” com tanta convicção que emociona, sabia? Você curte muito essa paternidade, não é?

- É o que tem me mantido vivo, cara. Não tenho mais nada em que pensar. Mais nada... ele falou, com tristeza na voz. – Vamos?

LEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEO IV

DOIS ANOS... - CAPÍTULO 9

Velucy
Enviado por Velucy em 18/10/2017
Reeditado em 18/10/2017
Código do texto: T6145785
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.