LEO IV - ENCONTRO - CAP. 10

CAPÍTULO 10 – ENCONTRO

Leo estacionou o carro a poucos metros da casa de Gilda, tomando o cuidado para não ficar muito visível.

A grade de ferro permitia ver tudo no jardim da casa, mas não havia ninguém lá. A janela do quarto do casal estava aberta, mas não havia sinal de movimento por ali.

- Será que tem alguém aí? – ele perguntou.

- Tem. O Haroldo não está, mas a Gilda deve estar lá dentro com o garoto. Ela quase não sai também.

Leo encostou-se ao volante e ficou olhando para a casa atento.

- Quantas vezes eu dormi nessa casa, quando não queria ir pra minha, sem saber que eu estava tão perto dela... Só ouvia o Haroldo falar de uma tal garota, chamada Gilda, vizinha dele... Pra mim, ela era só mais uma menininha boba, filha de médico, cheia de não-me-toques. E eu fui me apaixonar por ela... Por que eu fui me apaixonar justamente por ela, Tiago? Por quê? Por que tudo isso?

- É a vida, meu amigo. Ela foi bem cruel com você, não é?

Leo não respondeu. Ficou pensativo. Segundos depois, perguntou:

- Qual é a cor dos olhos do Bruno?

- Verdes, como os da mãe. É a única coisa que ele não tem de você.

Leo sorriu.

- Verdes...

- É, cabelos castanhos, pele clara e olhos verdes.

- Deve ser meigo como a mãe... ele disse, com os olhos brilhando de orgulho.

Ficaram em silêncio mais uma vez. Mas não demorou muito e eles viram dona Júlia sair de sua casa e ir para o portão da casa do lado, entrando. Leo ergueu-se, alerta.

- Era a mãe dela, não era?

- Era, a dona Júlia.

Esperaram mais um tempo e a senhora voltou, trazendo o garotinho pela mão. Leo ajeitou-se no banco para ver melhor. Era seu Bruno que vinha segurando a mão da avó. A visão do menino quase fez Leo perder o fôlego. Não conseguia nem se mover.

Dona Júlia abriu o portão. Gilda apareceu logo depois. As duas trocaram algumas palavras e Gilda beijou o filho, despedindo-se. Depois, dona Júlia começou a subir a rua devagar com o neto que, de vez em quando, voltava e acenava para a mãe.

Os olhos de Leo não se afastavam dele.

- Você não vai seguir a dona Júlia? – Tiago perguntou, mais aflito que ele.

- Ahn?

- Acorda, Leo! Vai atrás dela! Ela está a pé. Você pode até ver o garoto de perto. Ela não vai poder fazer nada contra você!

- Não sei... ele disse, nervoso. - Não sei, Tiago...

- Vai, rapaz! É a tua chance! Eu te dou cobertura, vai! A dona Júlia me conhece e gosta de mim.

Leo não esperou mais. Deu a partida e foi atrás dela. Não foi difícil alcançar os dois. Aquele era mais um passeio para Bruno do que qualquer outra coisa, e o menino andava ainda bem devagar.

O carro parou alguns metros adiante e Leo desceu, indo na direção dos dois. Quando o viu, dona Júlia assustou-se e parou, mas não fez menção de fugir.

- Eu não vou fazer nada, ele disse. – Só quero vê-lo de perto, por favor, dona Júlia.

Ela não disse nada. Leo aproximou-se devagar e abaixou-se, olhando para Bruno que olhava para ele também, indiferente. Leo estendeu as mãos.

- Vem comigo, vem?

Bruno olhou para a avó, como a pedir permissão, mas ela não largou sua mão. Estava muito nervosa e apreensiva.

- Vem, Bruno, vem comigo.

O menino estendeu a mãozinha livre para ele e dona Júlia, emocionada, soltou a outra. Leo sorriu e o menino jogou-se em seus braços como se o conhecesse há tempos.

Mal conseguindo suportar o coração batendo feito doido em seu peito, Leo o ergueu no colo e o abraçou forte, sentindo o cheiro gostoso que o filho tinha. Fez um esforço enorme para não chorar, para não assustar o garoto. Beijou seu rosto de leve várias vezes.

Leo olhou o filho nos olhos e perguntou, baixinho:

- Você não faz ideia de quem eu seja, não é, filho? Mas pelo menos não tem medo de mim... como todo mundo nessa cidade...

Leo olhava admirado para o rosto do menino que olhava para ele também, intrigado, enquanto chupava a chupeta com gosto.

- Você tem um cheiro tão bom... e é lindo, sabia? Eu te amo... te amo muito, viu?

Bruno sorriu e colocou a mãozinha em seu rosto. Sem conseguir controlar a emoção, Leo abraçou-se ao menino e começou na chorar.

Dona Júlia achou melhor aproximar-se e pediu:

- Solta ele, por favor, Leo. Eu tenho que ir. O menino vai se assustar e o Haroldo não vai gostar de saber que você o encontrou. Quer, por favor, entregar meu neto?

Leo não quis causar problemas para ela. Soltou o garoto que, mesmo no colo da avó, continuava olhando para ele com aquele ar de curiosidade distante que só criança sabe ter. Leo beijou a mãozinha do menino e pediu a ela:

- Não conte a ninguém que eu o vi, dona Júlia. Não quero que a Gilda o impeça de sair de casa por minha causa. Não precisa ter medo, eu... só queria tocá-lo. Desculpe.

Dona Júlia abraçou Bruno mais firmemente e se afastou na direção contrária, voltando para casa. Leo encostou-se no muro e chorou mais ainda. Tiago foi até ele.

- Vem, vamos tomar alguma coisa. Você não está legal. Vem.

LEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEOLEO IV

ENCONTRO - CAPÍTULO 10

Velucy
Enviado por Velucy em 18/10/2017
Reeditado em 18/10/2017
Código do texto: T6145787
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