TEACHER - SOLUÇÕES - CAP. 10

SOLUÇÕES – Capítulo 10

Segunda-feira. Dia de prova. Rupert se fechou, sozinho, na sala da biblioteca e estudou por quase duas horas, depois da aula. Estava absorto nisso quando Laura entrou ali e o viu. Ela se aproximou e sentou na ponta oposta da mesa. Rupert ergueu os olhos e olhou para ela.

- Por que eu não mereço isso? – ela perguntou, com uma lágrima correndo pelo rosto.

Ele não respondeu.

- Não é justo! A escola inteira comenta pelos cantos a sua desistência da minha matéria.

- Eu não posso assistir a sua aula, Laura...

- Por quê?! Se você me ama mesmo, devia gostar do que eu ensino, do que quero te passar.

- Você não entende...

- Não, não entendo! Me ensina!

Ele apoiou o rosto na mão e cobriu-o com ela. Laura levantou e aproximou-se dele.

- Volta a assistir minha aula, Rupert, por favor!

O rapaz ergueu os olhos para ela e respirou fundo. Levantou-se lentamente e a sentiu tão perto como nunca tinha estado.

- Não posso.

- Por quê? Medo?

- Você riria de mim se eu contasse.

- Não riria. Queria tanto saber o que fazer pra te ajudar... Conta pra mim. O que é?

- Eu... me sinto... pequeno, perdido na sua frente, lá. Dentro da sala de aula, você está tão longe de mim, tão... distante... Eu não consigo alcançar você.

- Você sabe tudo que eu ensino, antes mim, Rupert. Ninguém ali é maior ou menor do que ninguém.

- Pra você.

- Tem que ser assim pra você também.

- Não me confunde mais a cabeça, Laura, ele disse, fechando os olhos, sentindo o perfume dela tão de perto. - Me deixa. Eu já decidi o que vou fazer. Ano que vem eu faço DP e...

- Você tem como pagar?

- Isso não é problema seu, ele disse, ofendido.

- Você não pode arcar com mais uma despesa, Rupert. Pense bem.

- Problema meu.

Ela respirou fundo e balançou a cabeça.

- Moleque!

- Está vendo?

- Você está agindo como um agora.

- Ponha-se no meu lugar.

- No seu lugar... eu não perderia meu futuro por nada.

- Você não é nada.

Ela calou-se. Seus olhos encontraram-se com os dele e Rupert não resistiu. Aproximou o rosto do dela e a beijou. Laura aceitou o beijo e ao final dele sorriu.

- Viu? Eu sou humana.

- É disso que eu tenho medo. Humana demais pra mim. Prefiro você longe... já que não pode ser minha...

Ele apanhou os livros e afastou-se, saindo da biblioteca. Laura sentou-se numa cadeira e colocou a mão sobre os lábios. Estava se apaixonando também.

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À noite, na frente da tela mais uma vez, tentando começar uma obra nova, Laura só conseguia chorar. A campainha tocou e ela enxugou o rosto rapidamente, indo atender a porta. Era Matheus.

- Oi, atrapalho? – ele perguntou, notando o rosto triste dela.

- Não, entra. Eu estava tentando... trabalhar num novo quadro.

Ele entrou. Laura fechou a porta e convidou-o a sentar-se. Matheus foi para perto do cavalete e, ao ver a tela branca, falou:

- Sem inspiração?

Ela balançou a cabeça com um sorriso triste.

- O garoto está te dando trabalho, não é?

- Não quero falar sobre isso com você, Matheus.

- E vai falar com quem? Com o Dário? Aproveita enquanto eu ainda não estou com raiva daquele panaquinha por querer me roubar você.

- Ele não quer me roubar de ninguém. E eu não sou de ninguém. Para com isso!

- Desculpe.

Ela sentou-se no sofá.

- Desculpe você. Eu estou nervosa.

Matheus sentou-se também de frente para ela.

- Nunca te vi assim por minha causa.

- Você é um amigo, ele é meu aluno.

- Pena... Ele merece as suas lágrimas. Você se apaixonou, não foi?

- Não sei... Não posso... Preciso desse emprego, Matheus. Eu vivo dele. Não posso me envolver com ninguém que não possa... me dar mais do que eu tenho, além de segurança, apoio... estabilidade emocional... Ele é uma criança.

- Não exagera.

- Pra mim, é. Eu tento trinta e três anos.

- Então pare de levar isso tão a sério, Laura. Deixa ele raciocinar. Deixa ele se encontrar. O Rupert não é tão criança assim. Ele vai aceitar que isso é impossível. Tanto vai que não te procura, não te provoca, só...

- Evita minhas aulas.

- Não é o fim do mundo. Um aluno com ele engole essa DP em três tempos.

- Mas ele não tem como pagar! Um ano de DP não sai barato pra quem sustenta uma casa com um emprego tão humilde como de um mecânico, Matheus. Ele não vai aguentar.

Matheus apoiou o rosto na mão e pensou.

- Quem dá aulas de Inglês no Terceiro B?

- Eu. Todos os Segundos e Terceiros são meus.

- E à noite?

- A Carla.

- Transferimos ele pra noite.

- Ele trabalha à noite também.

Matheus coçou a testa. A coisa parecia complicada.

- Aulas à tarde nos sábados. Poderia ser a Carla mesmo.

- Quem vai falar com ele?

- Você! Não é você o pivô do problema? Ele sabe que todo mundo já sabe que ele gosta de você?

- Não sei, acho que não. Só contei pra você e o Gerson notou sozinho.

- Pois então tem que ser você mesmo. Converse com ele, como adultos, e proponha. Vamos ver no que dá.

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Welcome to my dreams...

CAPÍTULO 10

Velucy
Enviado por Velucy em 26/10/2017
Reeditado em 11/11/2018
Código do texto: T6153834
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