TEACHER II - DESABAFOS - CAP. 4

DESABAFOS – Capítulo 4

Rupert e Laura ficaram em silêncio por um momento, mas retomaram a conversa, emocionados os dois:

- Como você chegou à faculdade?

- Foi... com a ajuda de outro professor meu, de Inglês, ele falou sorrindo.– Ele dava aula lá.

Laura sorriu também.

- Quem?

- Maurício de Abreu, meu professor de Inglês no 3º. Colegial.

- Maurício de Abreu! Eu o conheci. Faleceu há dois anos...

- É... seis meses depois de eu conseguir a bolsa. Ele era demais. Ele agitou tudo. Entrou como responsável por mim, preencheu todas as fichas... fez tudo. A morte dele me chocou tanto quanto se... eu tivesse perdido meu pai.

- Ele era um grande colega também. Fiquei com as aulas dele, depois que ele morreu.

- É, ele dava aulas pros Segundos e Terceiros anos de T.I. Eu lembro que as turmas dele ficaram sem aula por uma semana, antes de você entrar. Eu estava iniciando o Primeiro ainda.

- Eu tive muita dificuldade em me adaptar a eles. Foi uma turma muito difícil. Eles não aceitavam outro professor além do Maurício.

- Eu sei. Um amigo meu daquela turma, o Samuel, falava mal de você até. Ele só metia o pau numa tal de professora Laura que não sabia de nada...

Ambos riram.

- Perto do Maurício, acho que eu não sabia tanto, mas... você acreditava?

- Sei lá... Nem sim nem não. Eu não te conhecia. A primeira vez que eu te vi foi no baile de formatura do Quarto daquele ano. O Samuel até dançou com você, lembra?

- É verdade...

- Naquela altura do campeonato a raiva já tinha passado e a turma toda já te adorava. Acho que foi ali que eu comecei a... admirar você.

Ele começou a olhar fixamente para ela, batendo levemente com o garfo no prato. Laura baixou os olhos, sem jeito.

- Foi coisa tipo… ao mestre com carinho, Rupert continuou. – Aquilo ajudou a minha turma no ano seguinte a te conhecer melhor.

Ela ergueu os olhos e enfrentou os dele.

- Eu te amo desde aquele tempo... ele completou.

Laura sentiu o coração pular no peito e preferiu ficar em silêncio, pois tinha medo se trair e dizer que sentia o mesmo. Rupert caiu em si.

- Desculpe... disse ele, arrependido.

- Não! Você não disse nada que me magoasse. Isso nunca foi dito pra mim assim... de uma forma tão... doce.

- Não acredito. Uma mulher como você já deve ter sido amada por mil homens. O Matheus é um deles.

- Fui, fui sim, mas não por mil, por um só. Até me casei uma vez.

Ele olhou para ela surpreso.

- Casou?

- Casei… e fui muito feliz. Ele morreu há dez anos também.

- Dez anos? Você foi casada... há mais de dez anos?

- Me casei com vinte e um e ficamos dois anos casados. Ele morreu num desastre aéreo quando vinha voltando pra São Paulo no jatinho particular da empresa onde trabalhava.

Rupert não sabia o que dizer.

- Foi o único homem que eu amei de verdade. Lamento não ter tido filhos com ele. Pelo menos um me faria companhia agora.

- Que idade ele tinha quando morreu?

- Vinte e sete.

- De lá pra cá você não teve mais ninguém?

Ela balançou a cabeça negando.

- Mas não morreu com ele como meu pai.

- Não, não acho que tenha sido isso. Meu caso é diferente. Pra uma mulher é mais fácil ser de uma pessoa só. Quando ele morreu, eu estava começando a faculdade de Letras. Cheguei a pensar em parar, mas alguma coisa dentro de mim me fez continuar. Terminei o curso, fiz mestrado... e comecei a dar aulas. Nas horas vagas eu tenho minha pintura, como você viu. Já fiz duas exposições, vendi quadros meus... e eu acho que isso me ajudou a esquecer a falta que ele me fez.

- Sempre achei que era disso que meu pai precisava. Alguma coisa diferente pra fazer. Não um trabalho, mas uma... profissão, um... hobby especial qualquer que o fizesse colocar pra fora a amargura que ele sentia por causa da minha mãe. Mas a única coisa que ele encontrou foi o gosto pela bebida.

- Você teve sorte de não ter seguido o exemplo...

- Eu não suporto nenhum tipo de bebida alcoólica. Nós nunca temos aqui em casa. Meu pai se embebeda com amigos, nos bares, às vezes quando sai pra comprar pão na padaria. Sempre tem um. E às vezes até dão uma garrafa pra ele, esses sem noção. Mas, se ele traz, eu jogo fora. Aí, ele briga comigo, às vezes me agride... depois... passa a raiva e a bebedeira e ele me agradece quando está sóbrio de novo e...

- Ele te agride?

- Até a dois três anos atrás ele me agredia fisicamente quando estava bêbado e eu não reagia pra não piorar as coisas. De um tempo pra cá, quando ele começa, eu saio de casa, fico fora um tempo na casa da Tereza ou do Décio, depois volto...

- Isso não é vida, Rupert.

- É a única que eu tenho, ele diz apoiando o rosto na mão.

Ela respirou fundo, impotente diante daquela situação e calou-se.

- Vou fazer um café, ele disse, levantando-se.

- Não, deixa que eu faço!

- Que é isso, Laura? Você já fez demais ouvindo o meu dramalhão. Fica...

- Por favor! Deixa eu fazer, ela disse, colocando sua mão sobre a dele.

Rupert olhou para a mão dela e Laura sentiu o sangue vir ao rosto.

- Tudo bem, ele concordou. – Vai ser bom tomar um café feito por uma mulher... pra variar.

- Vá pra sala. Eu arrumo a mesa e a louça do almoço e faço rapidinho.

- Você... se importa se eu for tomar um... banho? Cheguei da rua já fui preparar a janta...

- Não, claro que não. Fique à vontade. Faça de conta que a casa é sua, ela brincou.

Ambos riram.

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Welcome to my dreams...

CAPÍTULO 4

Velucy
Enviado por Velucy em 28/10/2017
Reeditado em 28/10/2017
Código do texto: T6155277
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