A foto não é minha, mas é de minha terra. Rio São Francisco, logo abaixo  da Cachoeira Casca D'Anta


Aprendi que a oração não é apenas uma espécie de S.O.S., um grito de socorro, mas um diálogo com Deus, um acertar dos ponteiros do relógio da vida.
Hoje é meu aniversário! Quanto mais eu rezo mais tenho a certeza que a vida é um encontro do tempo que passa com a eternidade que não passa.
 
Carlos Drummond de Andrade traduziu de Carmen Bernos de Gaztold (Prières dans l’Arche), uma coletânea de orações. Assim, dependendo do nosso temperamento ou profissão poderíamos rezar, por exemplo,

 
                Oração do galo
 
“Não vos esqueçais, Senhor,
Que eu faço nascer o sol.
Sou vosso servidor,
Mas a importância de minha função
Me obriga a uns tantos brilharetes e mundanismos.
Noblesse oblige...”


*É a oração das pessoas importantes. E quem não se julga importante?
 
               Oração do boi
 
“Dai-me tempo, meu Deus!
Os homens são tão afobados!
Fazei-os compreender que não posso
Andar depressa.
Dai-me tempo de comer.
Dai-me tempo de caminhar.
Dai-me tempo de dormir.
Dai-me tempo de pensar.”.


*É a oração dos que se sentem deslocados no turbilhão da modernidade com o seu ritmo contraditório de ideias.
 
               Oração do Gato
 
“Senhor,
Eu sou o gato.
Não que eu tenha alguma coisa a vos pedir,
Mas se por acaso, Senhor, tivésseis.
Nos celeiros do vosso Paraíso
Um ratinho branco
Ou um pires de leite,
Sei de alguém que apreciaria essas coisas...
Amaldiçoareis, um dia,
A raça canina?”


*É a oração do orgulhoso, que acha que não tem nada a pedir e, como quem não quer faz um pedido que Deus não pode atender, pois Deus não atende pedido algum contra ninguém.
 
               Oração do rato
 
Sou tão cinzento, Meu Deus.
Sempre vigiado,
Sempre caçado
Vou roendo mediocremente a vida.
Nunca ninguém me deu nada.
Por que me acusam de ser rato?
Só peço uma coisa: ficar escondido!
Dai-me apenas com que matar a fome
Longe das garras
Daquele demônio de olhos verdes.”.


*É a oração do complexado. Que acha que todo mundo é do contra, e acaba contribuindo para que assim seja com seu pessimismo e amargura.
 
               Oração da borboleta
 
“Senhor!
Em que ponto eu estava?
Ah, sim, este sol, esta flor...
Obrigada! Vossa criação é uma beleza
E este perfume das rosas!
Mas onde é mesmo que eu estava?
Ah, a gota do orvalho.
Acende fogueiras no coração do lírio.
Fantasias...
Em que ponto eu estava?”

 
*É a oração do poeta, do artista, da criança... Mas também de todos aqueles que não conseguem concentrar-se e, por isso desistem de rezar.

 
Agradeço a Deus pela saude, pela  família, pelos amigos de perto e os de longe, que conheci nesses dezoito meses de Recanto das Letras.  




Este texto faz parte do Exercício Criativo."Quanto mais eu rezo" Acesse o link abaixo e conheça os outros textos e seus autores.

http://encantodasletras.50webs.com/qtomaiseurezo.htm


Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 16/07/2012
Reeditado em 16/07/2012
Código do texto: T3780346
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