Divagando sobre o tempo

Tanto tempo passou após meu nascimento que parece que nem houvera o nascer. Parece que sempre estive por aqui, livre e crescido, aprontando umas com minha mãezinha, que a deusa Athena a tenha.

Aliás, essa doce e curta infância de que me lembro não poderia ser um sonho pelo simples fato de eu, mero pescador, ter marcas da época em que a vida era mais dura para os pobres.

Falando em pobres, lembro-me de minhas esposas. Três, quatro. A quinta não contou, pois foi um casamento arranjado, sem fé. A quinta na lista, por que na ordem fora a primeira, se bem me lembro. Surpresa não foi quando, em noite de núpcias, vim a saber que já fora outrora casada com um pastor evangélico. Dor. Para dor de meus pais que precisavam do dote para uma hipoteca de uma das suas mansões.

De todas as casas que me lembro a mais vívida e real foi a que resido atualmente. Desde que me entendo por gente, ou seja, ha uns dois ou três anos, é que me sinto são e salvo quando me coloco em cima da cama, branca, com seus lençóis, sempre brancos, com toda aquela gente branca. Medo só sinto de colocar os pés pra fora dela. É assustador.

Assustador é quando me deixam ir para o pátio, frio e verde, onde quase não existem pessoas com branco nos cabelos, nem remédios. Fico divagando sobre o tempo que era uma pessoa que não tinha recordações, pois não me permitia tê-las.

As recordações se tornam duras quando aquela menina vestida de rosa e colar de alquebéde vem me visitar. Ela, de longe, me faz sentir bem, só por que me lembra alguém, mas não sei ao certo quem. Mas, gosto dela. Quando ela está por aqui, sinto como se nunca tivesse nascido.

Prima
Enviado por Prima em 03/01/2012
Código do texto: T3419849
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.