MODULAÇÃO TEMPORÃ ("Quando não encontramos o repouso em nós próprios, é inútil ir procurá-lo noutro lado". François La Rochefoucauld)

No limiar de cada ano letivo, sou testemunha e vítima de um espetáculo que se desenrola nos colégios estaduais, uma espécie de ringue onde os professores travam uma batalha silenciosa e ora estridente, garantindo sua carga de aula, que, mais do que uma mera estatística, representa a luta pela manutenção do padrão de vida. Em meu retorno do recesso do final de ano, vejo esses atores profissionais e concursados se embrenhando na disputa pelo número mágico de aulas — seja ele 20, 30, ou 40 —, tudo em busca do tão desejado salário. E se preferir carga mínima, terá que justificar com documentos mil.

Nessa encenação da vida real, percebo que os critérios para a distribuição de aulas variam a cada ano, envoltos na teia complexa da política do grupo gestor, em que apadrinhamento, vinganças e o medo de denúncias delineiam as regras do jogo. Na ciranda de aulas voláteis, até mesmo os "veteranos de casa" se submetem a ministrar disciplinas que pouco se alinham com sua formação original. Pedagogos, por exemplo, se aventuram no Ensino Médio, lecionando desde Filosofia até Sociologia, enquanto encaram a difícil tarefa de administrar 32 diários de classe.

A ironia da situação revela-se na chamada "Pré-Modulação", um processo que se inicia em janeiro, perdura ao longo do ano, e colhe os frutos amargos das decisões precipitadas. O que deveria ser um período de descanso para os professores, no entanto, transforma-se em um interregno tenso e incerto. Enquanto outros trabalhadores de outras profissões se afastam para suas férias com a certeza de um retorno seguro ao mesmo posto, os educadores, em seu recesso, são assombrados por uma pergunta perturbadora: "O que será da minha vida quando eu voltar ao trabalho?"

Assim, o recesso docente de final de ano letivo e férias se tornam uma espécie de suspense angustiante, no qual os professores, ainda em seus dias de descanso, ligam para a secretaria da escola, buscando desesperadamente suas aulas. Este ritual força uma pré-modulação, uma distribuição de aulas fora de época que, inevitavelmente, será refeita devido à imprecisão. Eu, porém, vejo esse processo como um desperdício remunerado de esforços, provando que o fruto forçado a amadurecer cedo demais inevitavelmente apodrece antes do tempo.

Por que deveríamos acreditar em um apagão na educação se há professor demais e aula de menos? A resposta não reside na escassez de professores, mas na precariedade de um sistema que desperdiça talentos, submete educadores a um jogo desgastante e, no final, compromete a qualidade do ensino. O ciclo se repete, e a dança anual pela carga horária revela-se não apenas como uma questão de números, mas como um reflexo mais amplo das mazelas de um sistema educacional em descompasso. A verdade é que, enquanto alguns lutam por suas aulinhas, a educação como um todo corre o risco de se perder nos descaminhos de uma pré-modulação desgastante e desencontrada para atender as preferências por conveniência dos privilegiados.