FALTA (RE)CONHECIMENTO? (Média do IDEB Ensino Médio estadual, 4,3 — "Aqui tem trabalho do governo de Goiás")

Naquele intervalo, a professora de educação física escrevia os cartazes para divulgar os jogos interclasses, registrava: "VEM AÍ!!! OS JOGOS INTERNOS DA ESCOLA..." Então, eu percebendo a falta de um acento gráfico no verbo, orientei-a que colocasse o circunflexo, pois o verbo vir na terceira pessoa do plural é acentuado, nesse caso o sujeito é "os jogos", portanto plural. Ela me agradeceu e terminou o trabalho. Às 17h, na saída, vi os ditos cartazes afixados nas paredes, cada um com uma plastrada de corretivo branca em cima do acento. Falta respeito ou (re)conhecimento? É como disse Diógo Pantoja: "A falta do saber e a falta de informações, são os princípios da manipulação".

Na manhã desse mesmo dia, anterior a isso, no intervalo, ouvira da gestora uma pequena preocupação: — "Se os alunos do Ensino médio têm média excelente em português e matemática, em seu boletim, por que não atingem a média 5,0 na prova do "IDEB"? E a comédia estabelece-se mesmo, quando vemos os colégios estaduais ostentando uma média entorno de 3,8 em placas, bem na frente, com os dizeres: "Aqui tem trabalho do governo de Goiás". E vejam que essa prova externa é preparada, objetivando a elevação dos índices de aprovação, por sinal muito aquém do ideário conteudista!!! Todos os mecanismos didáticos e avaliativos do sistema educacional público é no sentido de passar o aluno de série, nem se importando com os deméritos dele, para justificar anúncios semelhantes a estes: "Informe especial-Avança Goiás: A educação cresce e Goiás aparece. A evolução do "IDEB" mostra que o Governo conseguiu alavancar a qualidade de ensino no estado."

Quanto ao caos, a culpa é sempre do professor, escuto isso todos os dias através de atos e falas. Isso se agrava quando se afere a competência do alunado! Por que o fracasso deles também é culpa do professor? E quando alguém acerta, os méritos são de quem? Mas, poucos acertam, será por que os alunos nunca levam a sério as provas do governo, a ponto de as boicotarem? Não são parceiros?

Parece-me que toda tentativa de reformular o Ensino Médio vira piada: "(...) Com isso, seria possível a reformulação do ensino médio , que, segundo Soares, está “absolutamente falido e no fundo do poço”. [https://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2018-09-06/reformulacao-ensino-medio-eleicoes.html] (acessado em 8/9/2018). Saiu recentemente, um tal "Programa de Intensificação da Aprendizagem" (PIA). Mas, como assim, se os aprendizes não estão a fim de intensificar nada? O mesmo já nasceu morto, fracassou! Todavia, sempre estão nos obrigando a esses tipos de projetos. Será se deveria haver esse tanto de projetos na escola, facilitando a aquisição de nota? Somos nós professores os coagidos a facilitar, nos quais recai toda culpa do fracasso dos alunos, e o objetivo será sempre o mesmo: recuperação de nota!

Completando aquele dia, final de tarde, já depois de ter trancado minhas coisas no armário da escola, uma mãe acompanhada duma aluna, daquelas indisciplinadas, desrespeitadoras, pressiona-me para dar um trabalho extra à tal acomodada, à beira da reprovação e só lembrou disso no último bimestre do ano. Eu garanti a ela que sua filha iria fazer recuperação, ou melhor, participar de uns eventos culturais e ganhará a nota que precisa.

A banalização de meu papel, por toda a comunidade, não ajuda impor-me. Só me resta tomar "analgésicos"! Porém, o ainda confortante é comparar a vida com um jogo de damas: o adversário tem de mover suas pedras para perder a partida, jamais o avise se o vir errar. Apenas "assopre" as pedras dele e tire proveito das vantagens. Eu pelo contrário, estou avisando, provavelmente esta partida de modo algum será minha. Professores de Língua Portuguesa não estão ensinando na escola dos cartazes...?!