Se...

Se por acaso você quiser ir embora a porta nunca esteve fechada, vá.

Se por acaso você se arrependeu de tudo o que houve, sinto muito, mas nada vai apagar tudo aquilo.

Se por acaso você esqueceu os nossos dias, pobre lembrança a sua, a minha dura a vida toda.

Se por acaso rasgou as fotos, os fatos, os atos, os tatos. Saiba que guardei tudo por nós dois.

Se por acaso você quiser apagar até as lembranças, não se preocupe o tempo apaga o que não foi importante, mas, o que foi importante ele trás à tona o tempo todo, em cada palavra, em cada rua, em cada taça de vinho.

Se por acaso você tentar ignorar o que sente e não consegue é porque ainda teima em não se conhecer.

Se por acaso for difícil falar, se despedir. .. Me dê algo inusitado como o silêncio do fundo do mar onde só ouvimos a nossa própria ensurdecedora respiração. Me dê a absurda dor de saber que de tão próximos ficamos tão distantes, me dê a inevitável certeza de que andamos por paralelas, me dê a indomável verdade que insistimos em não ver, me dê a evidência de que a liberdade é decapitada por falta de algo que sabemos e que não somos capazes de amputar de nossas vidas, enfim me dê sua ausência.

Se por acaso você passar nas livrarias da vida não compre o “nosso livro” para não perceber que o tempo passou, que a noite para você chegou e que agora ficou tarde demais.

Se por acaso você ler esse texto, saiba que o acaso não existe e que eu também, na verdade, eu nunca existi.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 25/01/2013
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