QUANDO OS IGUAIS SE NEGAM (Em todos os lugares os iguais se protegem na educação eles se negam)

Ao cruzar o limiar da sala de aula, sinto-me imerso em um universo onde cada aluno, aparentemente inofensivo, carrega consigo a imprevisibilidade de uma bomba relógio. Este é o cenário que se desenha em minha rotina como professor, um enredo marcado por desafios e complexidades que permeiam as relações na escola.

Um episódio recente ressoa em minha mente, protagonizado por uma aluna do sexto ano cuja maturação precoce revela uma malícia inusitada. A audácia de sua fala, incitando colegas a "infernizarem" seus pais para agredir um professor, ilustra o desconcertante jogo de poder presente na dinâmica escolar. Uma ameaça que, inicialmente, julguei pertencer ao folclore das inquietudes juvenis, mas que, ao revisitar, revelou-se uma narrativa que transcende o trivial.

Surpreendentemente, um encontro com um senhor, ainda jovem, em plena tarde, me questiona sobre a recusa de aceitar o trabalho de sua enteada. Uma indagação que, longe de intimidar-me, suscita dúvidas sobre a dificuldade em acreditar na filha adotiva. Questões entrelaçadas com a complexidade das relações interpessoais na comunidade escolar, onde o inusitado se torna parte do cotidiano.

A rivalidade entre colegas docentes, mascarada por elogios hipócritas, revela uma teia de intrigas e disputas veladas. A escola, unificada em teoria, torna-se palco de egos inflados, onde a qualidade do ensino cede espaço a um jogo de aparências. As avaliações externas, sempre indicando índices baixos, testemunham uma realidade que transcende a sala de aula, permeada por desafios e desigualdades.

A atmosfera carregada de medo, promovida pela ameaça de alunos marginais e coordenadores persecutórios, é exacerbada pela insegurança do contrato temporário e pelos bônus governamentais. Uma realidade que torna a greve dos professores uma mera utopia, incapaz de galvanizar a união entre educadores e educandos.

Nesse intricado panorama, aprendi a desvelar um sorriso perante as adversidades, a afirmar que tudo está às mil maravilhas, mesmo no silêncio de meu quarto, onde as preces noturnas buscam afastar as adversidades que assolam meu trabalho. Uma tentativa de resistir ao caos e, mesmo diante das críticas, continuar oferecendo aulas dinâmicas, acirradas, na esperança de, no mínimo, transmitir algo útil.

A coordenadora, inadvertidamente, destaca o caos de minha sala de aula, elogiando, de maneira equivocada, minha resistência. No entanto, o que ela rotula como bagunça são apenas minhas tentativas incessantes de ensinar, amenizando revoltas e buscando, como sugeriu Platão, educar como se fosse um jogo. Afinal, na intrincada trama da educação, é preciso jogar com as peças que a vida nos apresenta, compreendendo a disposição natural de cada aluno.

Assim, entre as avarias cotidianas da escola e os desafios que permeiam meu caminho, percebo que, mesmo em meio às avarias, a missão de educar persiste. Uma jornada que transcende o imediato, deixando-me refletir sobre o verdadeiro propósito de minha presença na sala de aula e sobre as marcas que deixo na vida desses jovens que, por ora, são apenas bombas relógio à espera de detonação.