* Na saída do condomínio onde resido, há gigantescas vasilhas para colocar o lixo. Os catadores visitam bastante essas vasilhas.
 
Certa vez estava indo comprar pão, uma catadora me pediu dois reais.
Ela disse: “Me dê dois reais para eu e meus filhos tomarmos café!”
 
Não tinha dois reais, mas falei que daria na volta.
Quando retornei não a vi.
Acho que ela não acreditou na promessa.
 
Não consegui fazer a frase do pedido abandonar a minha mente. Se ela não tomou café, a ausência dos dois reais (que separei para lhe dar, porém não a encontrei) causou essa privação? Eu posso ser considerado o culpado se ela não tomou café?
 
Essas indagações me perseguiram e comecei a pensar.
Deduzi que não acho correto interpretar os problemas como se eles nascessem de forma abrupta, pois sempre as nossas aflições crescem gradualmente, durante dias, anos ou toda a vida.
 
* Conheço vários estudantes os quais, apesar da escola pública seguir “empurrando”, não aceitam fazer o menor esforço, ou seja, não querem estudar nada, optando pela moleza.
Eles recusam o faz de conta da educação atual.
 
Conheço pessoas que outrora agiram assim. Hoje provam dificuldades na hora de buscar um emprego, manter a família, sofrendo bastante.
 
Não quer dizer que estudando, pegando um diploma, será fácil, porém, se ruim está com o estudo, muito pior será sem nenhum estudo.
 
Imaginando a situação da catadora, será que ela foi uma esforçada aluna na fase juvenil ou nem sequer ligou para isso?
Eu não sei a história dela nem pretendo pesquisar, contudo considerei a frase citada injusta demais.
 
Não aceito tamanha responsabilidade nos meus ombros!

Carrego algumas inquietações, nutro a minha dose de angústias, seria doloroso demais aumentar essa “carga” concluindo que uma família não tomou café porque eu não dei dois reais.
Somaria um desconforto pesado demais.

* A formiga acima, por exemplo, quis ser prestativa, mas exagerou no tamanho da folha. Ela não merece sofrer a agonia desnecessária de carregar a enorme folha até o formigueiro.
 
As suas colegas, quando ela retornar muito esgotada, serão culpadas porque ela decidiu pegar uma folha tão grande?
 
Imaginemos que ela fique doente e não possa ir buscar novas folhas.
Vamos supor, exagerando um pouquinho, que ela seja expulsa do seu grupo. Amanhã, no inverno, ela encontrará a cigarra cantando e dirá:
 
“Oh, cigarra! Eu posso passar a noite no seu lar pra não morrer de frio?’”
 
A cigarra certamente vai estranhar o pedido e raciocinará “Se ela não tem casa, deve ter aprontado alguma!”
 
* São hipóteses e loucuras do poeta bigodudo, pensamentos bobos, mas creio que a cigarra não vai gostar dessa fábula mal contada.
 
Se a formiga morrer de frio, ela será a grande culpada?
 
* Depois de alguns dias, recordando que não topou oferecer o aconchego do lar à formiga, a cigarra se arrependeu e não esqueceu o assunto.
 
Será que a recusa causou uma tragédia?
Como ela pôde agir com tanta crueldade e frieza?
A pobre cigarra cessou o seu animado canto e passou a caminhar sem rumo, cabisbaixa e desolada.
Ela imaginou a formiga tombando, não resistindo ao frio.

Nossa querida cigarra concluiu o quanto o fardo da vida, pertencente às formigas, cigarras e aos homens, bigodudos ou não, é pesado demais.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 23/04/2014
Reeditado em 24/04/2014
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