Passos Mudos

Você passa mudo por mim, eu passo muda por você. Ninguém percebe, ninguém vê realmente que eu estremeço um pouco de dor. Ainda, até hoje, não consigo entender o que há de errado comigo, porque não passa nunca.

Completos estranhos. E pensar que, um dia, nos conhecemos tão bem. Eu sabia enxergar sua alma pelo seu olhar. Sabia como lhe arrancar um sorriso, sabia o que você queria dizer sem que precisasse abrir a boca. Você me ensinou tudo sobre você. E agora eu nem sei mais se o conheço.

Por que fingimos todo o tempo que isso não é nada? Somos tão patéticos, tão superficiais. Mentimos pra nós mesmos, fugimos de nós mesmos, como se isso fosse justo.

Antes era tão fácil dizer o quanto eu sentia tua falta. Hoje nem sei mais como fazê-lo. Nem sei mais se isso mata você como mata a mim. Porque você não pode ouvir meu grito se ele só existe em minha mente. E ninguém percebe o quanto isso me mata. Você esteve próximo o suficiente para entender que a maioria das pessoas não me conhecem de verdade. Eu não deixo que me vejam, não me aproximo, eu sou covarde quando se trata de gostar ou me deixar ser gostada. Eu não demonstro como me sinto, assim ninguém sabe realmente. E é melhor assim, não é?

Sabe? Ainda é difícil compreender o que aconteceu realmente para que acabássemos desse jeito. Uma explicação racional para aquela velha história que nunca nos cansamos de repetir um para o outro. Tantas coisas que eu gostaria que você soubesse. Aquele filme que me fez lembrar você, o meu novo sabor favorito de sorvete, a minha viagem mais recente, o sonho esquisito que tenho tido, o meu dia de hoje. Assuntos banais. Segredos. Lágrimas. Há tanto que eu queria partilhar com você, porque só você via através de tudo. Só você via a minha alma, me compreendia e não me julgava.

'Melhores amigos'. Só Deus sabe o quando você já deu sentido a esta expressão. Eu me sentia tão conectada a você que nem sequer conseguia imaginar como seriam os meus dias sem tê-lo por perto. Porque, caramba, era tão fácil sentar e rir, contar meu dia, me sentir leve. Era tão confortante me sentir apoiada quando tudo o que eu queria fazer era chorar no seu ombro sem ter de dizer nada. Você fazia todos aqueles planos e, já eu, só queria estar ali. Ao seu lado.

Você via sempre o melhor de mim. Eu amava tanto você. Mas você nem sonha o quão egoísta eu sou. Eu vejo você sorrindo e isso parte o meu coração. Não é que eu não queira ver você feliz, sabe? É que eu só não consigo entender. Nós quase nunca nos falamos. Há tempos e já não me sinto mais bem vinda. Hoje eu sou uma estranha, sei que sou. E eu previ isso antes mesmo de nos tornarmos amigos. Você se lembra? Como eu sempre dizia que você acabaria indo embora, porque todo mundo ia embora no final? Eu sabia que feria o seu orgulho, mas aquilo era mais pra mim. Era pra que eu mesma aceitasse. Mas, por dentro, eu só torcia para que nada se quebrasse no final.

A verdade é que eu tenho tentado seguir em frente. Ás vezes parece muito fácil. Mas, quando você aparece, quando passa por mim em silêncio, sempre volta a chover. E não, não é culpa sua, é culpa minha. Eu sou assim. Eu não consigo aceitar o fato de que as coisas duram o tempo para o qual foram destinadas a durar. É por isso que eu sou péssima em sentir raiva e afastar você para sempre. É por isso que, quando nos falamos, eu não consigo maltratar você, por mais que me machuque. E isso é muito egoísmo da minha parte. Não deixar você ir embora de dentro de mim. Mas, sabe? Ao menos eu consigo manter tais fatos longe de você. Ao menos eu consigo, também, passar em silêncio por você. E, assim, eu não o machuco.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 25/04/2014
Reeditado em 03/12/2014
Código do texto: T4781937
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