Avós não deviam morrer

Avós não deviam morrer.

Avós deviam durar para sempre, deviam ficar eternamente com aqueles olhos brilhantes e o corpinho frágil, emolduradas só para nós, os netos.

Deviam manter sua fala mansa e seu tom de braveza fingida, que disfarça o carinho com que dão cada bronca, cada ralho.

Avós devia ter sopro de vida eterno, chama infinita que alimentasse sua vontade e amor.

Porque, vovó, eu fiquei aqui. Triste, triste.

Sentindo falta só de falar com você, de te abraçar, de contar tudo, de desabafar.

Vó é algo que, parece, nasce assim: capaz de te ouvir, te criticar e acariciar, mas de respeitar, de ficar feliz só porque você está feliz, de ficar triste quando não te vê por muito tempo, mas de esquecer tudo e sorrir só de te ouvir.

Fiquei aqui, sem você, triste, triste.

Sabemos que as vovós tem que ir um dia. Disso temos certeza, mas elas tem o dom de nos dar a esperança que não irão nunca...

Vovós são aquelas que tomam nosso coração mesmo sem querer. Cuidam dele sem mesmo saber. Mas, e depois, quando chega a hora de nos deixar, fica um frio, um desaconchego...

Se vão, com as vovós, muitas de nossas esperanças, muito de nossa infância.

Porque estou aqui, sem você, triste... triste.

Mas nos deixaram sua imagem, nos deixaram sua doçura, seus olhos em nossa mente.

Ainda que se tenham ido, de tanto crermos que nunca iriam, aprendemos a ter esperanças. Mesmo que frustrados, somos capazes de, agora, entender muita coisa que se passou, muitas palavras e muitas "não-palavras".

E nossa vontade de tê-las novamente faz com que queiramos repetir tudo, viver de novo, começar do começo, aproveitar melhor cada momento... mas não dá!

No fim, por mais que tenhamos certeza que era a hora, não nos conformamos.

O tempo, talvez amenize a falta, a saudade, mas não vai curar nada.

Porque há um vazio, triste... triste!

Mas, vovó, tenho que saber que agora só a terei em meu pensamento, em minha lembrança.

E quando quiser falar com você? Como faço? Promete me ouvir?

Fique tranquila, saberei sempre que me responderá, parte da eterna esperança que me deu. Só não sei se saberei falar sem que, no fundo, haja um soluço, uma lágrima...

Enfim, vovós não deviam mesmo morrer!

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