REFORMA - EC

Sentia-se infeliz ! Entrou com certo estranhamento agora via tudo. Envergonhado, quantos anos ali estava, acumulando tantas coisas inúteis e outras tão feias.

Em um dos cômodos de acesso principal deparou-se com o orgulho, imperioso de tal forma que sua cor intensa influenciava os demais aposentos. De fato um ambiente vasto, nunca se dera conta que era o salão principal, de modo que era inevitável deslizar pelo demais cômodos sem passar por ali.

Logo a direita em um cômodo coligado deparou-se com a vaidade, ambiente de sutileza bem simulado, parte de sua área útil era compartilhada com o saguão principal. Adentrando se mais um pouco encontrou sub-salas interligadas de nomes igualmente constrangedor : avareza, ciúme, ódio, impaciência, intolerância, agressividade, negligência.

Era de fato um imóvel bem devastado, não sentia orgulho de apresentá-lo aos interessados.

Dias analisando os fatos que o levaram a se proporcionar tal decoração, quando finalmente entendia que aquele móvel pesado que nomeou ingratidão era na verdade orgulho ferido. Por qual motivo necessitava de tanto reconhecimento ? E a ausência destes aplausos , por que o fazia profundamente infeliz ? Concluiu que muitas vezes o responsável por alí o depositar, sequer soubesse de sua responsabilidade. Inutilidade ! Descobriu-se envergonhado, não era possível encerrar sua vida em um ambiente tão pouco nobre.

Era preciso mudar. Seus questionamentos deram início à uma gradual demolição.

Onde encontrar os itens para sua reforma ? Como melhorar, como faria para repor o que desejava ? Onde seria esta loja ?

Então notou que não se sentia vazio. Na mesma proporção que se empanhava em expurgar os defeitos, as virtudes iam quase que automaticamente tomando o espaço , sai o egoísmo e nota-se a presença da caridade, adeus ao ódio e lá estava a doçura. Onde havia a vingança agora a suave e leve presença do perdão. E assim, viu-se a residência tensa, pesada e triste, invadida por compreensão, tolerância e sensatez. Tal não foi sua surpresa ao chegar no saguão principal e notar que esta agora era a área reservada à HUMILDADE. As coisas boas também sempre estiveram ali, apenas não eram valorizadas, incentivadas, alimentadas.

Percebeu que sua casa era intensa, mutante e desafiadora, os requícios antigos teimavam em brotar aqui e ali, portanto requeria um empenho constante e ilimitado. Trabalhoso demais, porém generoso em sua renumeração. Não se tratava de uma simples reforma, entendia-se em construção permanente. Era agora um homem melhor !

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