Primeiro Beijo

Treze anos. Outras meninas, as mais desinibidas e precoces já tinham experimentado e narravam suas aventuras. Eu ainda não. Ainda não tinha dado o tal "primeiro beijo". Era muito tímida. Era do tipo "estranha". Não queria usar roupas sensuais, não me identificava com isso. Eu tinha descoberto, concomitantemente com minha puberdade, as bandas e os astros do rock. Usava camisetas bem maiores que o meu tamanho. Andava de um jeito masculinizado. Talvez esse era um jeito de combater o machismo lá de casa. Era do tipo colérica. Nessa época comecei a idealizar o meu amor. Seria um homem cabeludo. Como o Bruce Dickinson! Forte. Olhar esperto, um misto de candura e crueldade. Ele deveria gostar de rock, mais precisamente de metal, assim como eu. Desejava a materialização de um ídolo ou de um ideal. Tipicamente adolescente. Mas o destino... bem... Eu estava lá numa quermesse de uma cidadezinha próxima à minha. Claro, quem já foi pode entender a quermesse como uma espécie de "farra teen". E estava eu metida no meu visual metal quando um rapaz se lança. A questão é que ele era um playboy, cabelo estilo "tigela". Meio gordinho, um tanto sem "estilo" ou qualquer coisa pela qual eu me identificasse. Acontece que nessa idade os hormônios estão realmente a flor da pele... Eu queria ter essa experiência. Então o beijo foi... sem graça nenhuma. Sem poesia, sem calor. Duas bocas estranhas se tocando, duas línguas perdidas nos seus destinos. Parei no meio da coisa. Desculpei-me e disse que aquilo era contra um ideal. Saí correndo. A minha adolescência foi realmente minha fase mais subversiva.