Ressaca

Dez horas da manhã de um domingo. Boca seca, cabeça explodindo e a sensação terrível de ter sido pisoteado por uma boiada. Ressaca. Fico ensaiando pra abrir os olhos, não consigo. Lentamente e de olhos fechados ainda, vou ao banheiro. Ligo o chuveiro, água gelada, sento e sinto a água cair sobre minha cabeça. Vou clareando as ideias, flashs da noite anterior me veem a cabeça. Bate um misto muito louco de sensações. Arrependimento por ter bebido tanto, felicidade pelas noite divertidíssima com os amigos e uma vontade de ligar pra mina do beijo tão bom e rápido de ontem. Pego meu celular. Não ligo. Jogo no Google "como curar ressaca", leio algo sobre tomar bastante água e ficar em repouso. Decido fazer isso. Ligo Netflix, coloco algo que não vou prestar atenção e fico ali, me hidratando e relembrando tudo que fiz. O beijo dela não me sai da cabeça. Ela não é uma mulher desconhecida que beijei no rolê. Ela mexe comigo e sabe disso. Eu sei disso. Eu nego, ela não toca no assunto, eu mexo com ela também. Quase não nos vemos, a rotina dela e a minha não permitem encontros. Não nos assumimos, e ficamos nessa parada excrota de não viver o que devemos. É uma merda, mas quando ela me beija, o mundo para. Sabe a sensação de ter finalmente encontrado um lugar pra se aconchegar? Exatamente essa. Beijo ordinário que bagunça minha cabeça mais que a vodka de ontem. Bagunça a dela. Penso em ligar, mandar msg, assumir ela pro mundo. Não tenho certeza sobre nada. Meu medo é maior que minha coragem. Minha cabeça tem uma dúvida que me assola. Eu amo a liberdade e o beijo dela é uma prisão. Me entrego ou corro? Não consigo pensar em nada agora. Amanhã sofro com isso. Hoje eu só quero uma garrafa d'água, um sofá grande pra deitar, uma bom pedaço de pizza e... aquele beijo. "Seu beijo é muito bom e te odeio por isso"! Mandei. Olho ao redor, minha casa está uma bagunça. Minha cabeça também. Depois arrumo os dois, agora preciso dormir.

Autor: Luiz Felipe Paz