As mentiras que nos cercam

Olho ao redor e observo sorrisos, cochichos, buchichos.

Cigarros acesos, rodas ferventes de mentiras ditas e soltas como fumaça.

Vejo nos rostos sombras projetadas pelo disse não disse, nomes e codinomes, em um julgamento informal.

Percebo nos cigarros reunidos, fagulhas para uma possível fogueira, um ataque sombrio em meio às chamas.

Penso quantos já foram setenciados, ali julgados, inocentes queimados em praça pública.

E por quê? Por não se renderem aos caprichos elusivos destes agradáveis corações vazios. Sentem sem sentido.

Culpa não, culpados! Sentenciados por cegos que enxergam somente narcisos em espelhos trincados, amarrados em nós emaranhados.

De alguma maneira sinto, intuitivo, que sou um entre os arraigados pela ilusória moralidade mesquinha, cotidiana,

Aquela que me faz vítima do fogo que se revela, que incinera com perfeição as imperfeições alheias.

Ouço ao longe as risadas de sarcasmo, de intolerância com veemência.

Em consenso inconsensual, bombas de tamanha intensidade são disparadas em múltiplas direções,

Por todo os lados, enxergo num surto de luz olhos aos prantos, a nuvem letal paira ao redor

E tamanha desordem traz recordações do que então parecia recíproco, verdadeiro

Sobram então laços desamarrados, rastros apagados, gestos não mais lembrados

A amizade aniquilidada pela camaradagem, o sigilo do que um dia foi segredo mútuo.

A empatia então cria anarquia e traz ao trono novos soberanos

Impostos pelo intuito de propriedade, das mentiras ou das falsas verdades.

Com nova coroação em mente, loucos perpetuam por breve tempo o novo rei, a nova rainha,

Reais inventados, traídos tão logo o sangue seque nas ruas, prestígio emprestado pelo imprestável

Azul, vermelho, tanto faz a cor do sangue em combustão, o que importa é o fogo não apagar, é abastecer a encenação.

Soberba, desejo de grandeza, revelados somente pela mesquinhez minúscula da alma que os assombram.

Seria eu rei deposto de uma monarquia falida? Tonto estou pelo tonto que fui.

Sento-me no chão, e tudo que vejo sob meus pés pregados, são minhas mãos agarrando-os em direção ao coração, esfumaçado.

Deus abençoe à quem me define, à quem nos define, sem total conhecimento de causa, sem total conhecimento de si.