Mentira

Cansei de fingir para mim mesmo

Nesse mundo de inverdades

Enganar-me assim sem piedade

Achar que nada podia trair-me

Que nunca haveria ilusão

A cegar-me a visão

A transformar tudo em miragem

Todas as paisagens

Sangradas de saudade

Onde sonhei viver de ventura

E respirar paixão somente

Cansei de mentir para mim mesmo

Que haveria fuga desse ermo

Que me aplacaria a sede

Nessas águas sujas

Mataria minha fome

De mastigar minha carne

Triturar meus ossos

Sorver meu sangue

Que cessaria essa angústia

Que com força me oprimi

Contra a qual não posso lutar

Cansado de fugir de mim mesmo

Queria encontrar logo a saída

Disparar pela estação

Com meu bilhete só de ida

Voar na hora da partida

Em um trem que me leve

Para o cafundó das lonjuras

Escapar das despedidas

Para não chorar de loucura

Nos braços de quem traía

E nunca mais viver de mentira.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 11/04/2008
Reeditado em 15/04/2008
Código do texto: T940896