EM VENTANIA

Bate forte na janela

Bate forte a ventania

Zumbido penetrante

Zumbido de agonia

Circunda o quarto inteiro

Crava, deixa um rastro

Demarcando o espaço

Um redemoinho parado

Que ameaça crescer e crescer...

Nus, meus pés congelados

Num fino lençol, o corpo enrolado

Indefeso, abandonado

Sem o que se proteger...

Persistem ventos imortais

Pesados sentimentos pairam

Abro a ruidosa janela

Rosto e ar embebidos

Que atrito refrescante!

Cabelos escapam revoltados

Numa névoa vacilante

O céu cinza se esconde

Num horizonte perdido

Longe de terríveis atribulações

Essa ventania não cessa

Ela vem e tem pressa

Para seu rumo seguir

Infiltra-se desesperada

Gira desajeitada no meu peito esguio

Sinto um leve entorpecer

E nada mais importa agora

Apenas os ventos confortam a demora do amanhecer

Embalam em frios braços meu corpo vazio

Leva embora tempos passados

Amedrontados sorrisos roubados

Desperto apavorado

Uma sonolência profunda

E chove a chuva ainda

Clara transparência linda

Caem em minhas secas faces

Gotas penetrantes de alegria

Lava-me a já deserta alma petrificada

Agora, sou os floridos lírios do campo

As correntezas das águas dos rios

Singela beleza orquestral

Zumbidos querem ser ouvidos

Essas suaves vozes guturais

Jamais cansarei de ouvir

Preciso outra vez sentir

Enquanto existir a existência

Até que tudo retorne ao pó...

Isis do Vale
Enviado por Isis do Vale em 17/11/2017
Reeditado em 17/11/2017
Código do texto: T6174624
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