Sem vez

Toda vez

Que me abato

Que sou peça de abate

Entalo no cano

Entoco na caverna

Reclamo de braços cruzados

Não acendo velas

Desdenho abre caminhos

Toda vez

Que jogo a toalha

Tranco porteiras

Saio da estrada

Viro o rosto à mão amiga

Não busco atalhos

Não traço trilhas

Amordaço desabafos

Não me dou segunda chance

Meus adversários interiores

Convidam a torcida pro churrasco

Eles enchem estádios

Lotam avenidas

Abarrotam parques

Soltam fogos

Cantam, dançam, festejam

Fazem selfies, compartilham

Até os ossos do meu cadáver

Menos um obá

Menos um obá

Menos um obá

Menos um obá

E olham pra fila de mim

A espera do próximo

Há tempos remotos

Minhas carnes abastecem açougues

Neste contexto

Sem nave

Sem teto

Sem mesa

Sem pódio

Sou troféu

Sigo virado pelo avesso

Travestido em aparências

Que não fazem a diferença

Sem vez

Outra vez

Ao espelho não sei dizer

Se o desgosto maior

Se o tropeço pior

É o de ser limitado

Acuado, defasado, despreparado

Ou mais outro fracassado

Fazendo coro à mística

Engrossando estatísticas

Oubí Inaê Kibuko, Cidade Tiradentes, 28/09/2017