Um sonho que se perdeu

A todo instante,

Em algum lugar,

Um valor é esmagado,

Esmigalhado.

Colocado de lado,

Sem demora.

Por uma alma,

Que por dentro,

Às vezes chora,

Mas que por fora

Tem o corpo enfeitado.

A todo instante,

Em algum lugar,

Abandonamos a nos mesmos.

Seguindo a esmo,

Por caminhos tão faceiros,

De pedrinhas de brilhante.

Parecendo radiantes,

Indo contra o que cremos.

Perguntando:

O que seremos?

Se remarmos ao contrário,

Dessas ondas balançantes.

Tão difícil ser aceito,

Respeitando os princípios,

Que julgamos necessários.

Que desejamos ter do outro.

Em mim é ruim,

No outro é pouco.

O que é que eu terei?

Desgraçando meu passado,

Com pessoas que nem sei,

Como chegaram ao meu lado

Se eu nunca desejei

Muito menos planejei

Ter o meu crer,

Abandonado.

Tenho fé?

Se sim, em quê?

Em poder superior?

Em um Deus, um salvador?

Em meus planos?

Ou nos simples desenganos,

Que cometo com temor?

Imaginando que um dia,

Me aguarda a noite fria,

E embrulhado num jornal,

Que um estranho me jogou,

Por perceber-me ali sozinho,

No chão duro,

A tremer

Pensando em como seria,

Se eu tivesse observado,

Quem estava do meu lado,

Disposto a tudo,

Para não me deixar sofrer.

E se sofri,

Qual será foi o motivo?

Será que o Pai me esqueceu?

Ou fui eu mesmo,

A vacilar,

Por ter deixado-me seguir,

Ao sabor de ventos outros.

Vivendo vidas,

Que não minhas.

Com meu caminho a abandonar,

Para sentir-me engajado,

Em algum grupo

Que hoje vejo,

Estão todos tão quebrados.

Quase todos como eu,

Em algum canto,

Embrulhados,

Em um jornal,

Que é datado...

No futuro maltratado,

De um sonho que se perdeu