O MENINO, O VINAGRE E O FEL

Era só mais um menino abandonado

Mais um nos faróis de avenidas

Tendo o asfalto como seu sapato

Lavando com vinagre as sua feridas

Tantos nomes se perdendo

Em agendas de papel

Tomai aqui essa esponja

Embebida em vinagre e fel

Os olhos que se recusavam a ver

E os dedos que só sabiam apontar

Era só mais um perdido no mundo

Sem era, nem beira, sem futuro

Tal qual Rebecca, era só uma criança

Com o seu saco de ossos

Lambendo suas próprias feridas

Tentando não ser parte dos destroços

Sem um deus para orar

Ou um diabo para vender a alma

Ele foi responsável por sua sina

E por toda causa

O menino, o vinagre e o fel

Rejeitado pelo inferno e pelo céu

Ele não tinha um ombro pra chorar

Ele não tinha um lugar para onde ir

Ele não tinha ninguém para confiar

Ele não tinha um sorriso pra sorrir

O menino, o vinagre e o fel

Rejeitado pelo inferno e pelo céu