NO PRUMO DA POESIA

Ia eu a cavalo pela estrada tardia,

a trotar e a ver a paisagem ao redor,

enganchado no prumo da poesia

que me leva ao que há de melhor...

Acenando ao que passa, devagar,

murmuro bom dia num sossego só;

a vida parece ondas no mar,

multidão de desertos plenos de pó...

Do cavalo desço e andamos os dois,

pasta ele, como a maçã do embornal,

bebe água na bacia que lavo arroz,

somos tão parecidos, homem e animal...

Ferve o sol a lagoa de peixes suarentos,

descansa o inseto na sombra da margarida,

replica a natureza no pólen que voa no vento,

assim é, se lhe parece, este milagre chamado vida...

Relincha o cavalo ao ver a égua no pasto,

sorrio por saber que o prazer de viver não morre,

solto, ele salta e busca a fruta no mato,

eu, sentado debaixo do ipê,

escrevo o que me ocorre...