Quem quer saber de você?

Quem vai saber o que alguém lhe falou,

que o feriu, ou que lhe magoou

Quem vai saber se a sua empáfia passou

Quem irá julgá-lo,

quando a si mesmo não se julgou?

Quem será nobre comendo brioches,

falando palavrão, bancando o esnobe

e roubando o pão da boca dos pobres?

Quem terá a placidez, a força,

quando o que era forte fraquejou

e o que parecia resignado praguejou

Quem será realmente bom,

depois de ter sido confirmado pelo voto

Quem será integro,

quando o honesto se danou?

Quem apanha calado,

tendo apenas os olhos marejados

O jovem sorri para a vida,

e trata de esconder suas tristezas

O velho tem o hábito de maldizer a vida,

Ora, pois já não se sente obrigado a rir.

Quem há de saber do futuro em meio

ao atraso que se apresenta no presente

Quem há de sentir vergonha, vivendo

em plena zona de meretrício?

Posso morrer de fome, zica ou dengue,

ou quiçá de morte assassinada, afinal,

sou irmão do infortúnio, filho de pátria homicida

Quem vai desfaze todo o mal ainda vigente

que a putrefata República semeou,

desdizendo o que alguém lhe ensinou?