Canção de FUGA e RETORNO

Canção de Fuga

Minha terra tem bandidos

Onde não posso mais morar;

Já tiraram a minha casa

Mas nem morto eu volto lá.

Nosso céu já está farto

Cheio de vítimas inocentes;

Nossos bosques viraram cemitério

Descanso para aqueles indigentes.

Se sair sozinho à noite

Posso ver na imensidão

Luzes que atravessam o céu

Tiros que percorrem a escuridão.

Não permita Deus que eu morra

Vítima de um tiro perdido

Ou que seja confundido

Com um demente ou um bandido.

Canção de retorno

Sinto falta da minha terra

Do meu cantinho onde canta o curió

Do meu bosque, à sombra da mangueira

Da vida pra qual não posso mais voltar.

Passo as noites sozinho

O carnaval, as estrelas;

Visões do paraíso

Primores que não mais verei.

De dia também fico triste

O futebol, o sol

Alegrias que não mais viverei.

Queira Deus que eu não morra

Antes de dar uma última “espiadela” lá

Que eu ainda veja minha terra onde canta o curió.

Apenas canção

Minha terra tem axé, forró e blá, blá, blá.

Tem dança de salão, lambada e lá, lá, laia.

Mas o que tem que nunca vou esquecer

São loiras e morenas que dançam até amanhecer.

Em cismar, sozinho, à noite

Na balada vou procurar

As músicas da minha terra

Os imortais que sabiam cantar.

Do romance até o rock

De MPB até o pop

Só a minha terra tem a Bossa

Sem falar no samba, ia, ia.

Meus salões têm mais estrelas

Como as chacretes do Velho Guerreiro

Do Rei Roberto Carlos,

Até o louco que canta no banheiro.

Não permita Deus que eu morra

Em imenso silêncio profundo

Que eu possa escutar as músicas da minha terra

Enquanto dou meu ultimo sussurro.

Algum cantar

Na minha terra não encontro mais a palmeira

Onde cantava o sabiá

Não sei onde posso encontrar a andorinha

Nem sei mais onde posso procurar.

Minha terra tinha aves

Que o explorador dizimou

Foi tanta caça e tanta gana

Que a vida se espirou.

Se acordar, sozinho, a noite

A coruja não vou escutar

Nem vou ouvir o prelúdio

Do galo selvagem a cantar

Não permita Deus que eu morra

Antes de aos meus filhos mostrar

Ao menos uma quase extinta palmeira

Com um sabiá a cantar.

2002 - paródias

Sabrina Taury
Enviado por Sabrina Taury em 07/12/2008
Reeditado em 21/02/2009
Código do texto: T1323539
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