Das águas

Olho dentro de mim

e vejo águas

não de mágoas

apenas águas

que correm lentas

às vezes são sinuosas

às vezes são como cachoeiras

noutras, como ondas

em mar de ressaca

são águas lodosas

ou límpidas, faceiras

águas de comporta

águas que cortam como faca

às vezes vejo águas paradas

que apenas brilham reflexos

noutras, águas de sexo;

águas derramadas

mas, às vezes, eu sinto

que tantas águas me afogam

como naufragasse

dentro

como se estivesse

no centro

do que, em mim, debocha

então penso

com senso

que essas águas sem fim

me batem

num espetáculo humano

cartesiano

... porque sou rocha...

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