A Matemática da vida

Fim de mês é data boa

Que faz a nossa alegria.

Ao receber o salário

Do patrão da Companhia.

Mas também é de tristeza

Quando a gente volta a casa

Pois o bolso do empregado

No mercado tudo vaza.

Mal dá para a comida

Do puro arroz com feijão.

E sem um centavo no bolso

O mês vira solidão.

Não tem jeito de sair

À noite, em diversão.

Ninguém quer saber de gente

Com bolsos sem um tostão.

Nessa situação danada

Vi sem jeito de ficar

Eu tinha que mudar de vida

Antes dela se acabar.

Então pensei na escola

Que eu tinha deixado pra lá...

Será que depois de anos

Adiantaria eu voltar?

Pensei, pensei e fiz as contas:

Se eu fizesse o supletivo,

Talvez eu viesse aprender

A ser um cara mais vivo.

Se eu aprendesse matemática,

Somaria melhor minha conta,

Diminuiria um pouco meu gasto...

Talvez molhasse a garganta!

Foi essa avaliação o que me fez decidir

Voltar à escola, ao ponto em que desisti,

Dividir meu tempo ao trabalho

Na busca do que perdi.

E assim voltei estudar

Na primeira fase do EJA.

Sempre bastante cansado

Do pós dia de peleja.

Mas peguei firme com Deus

Que eu haveria de dar conta.

Estudei cada operação

Fiquei tal barata tonta.

O mundo girava em números...

Unidades, dezenas... Unidades de milhar;

Milhões de bilhões e trilhões;

Ninguém conseguia contar.

Então veio o dia de prova.

Oh, que terrível tensão!

Foi zero pra cá, zero pra lá,

Uma total reprovação.

Então o professor explicou

Que na Matemática é assim.

O que no começo se erra,

Se aprende tim-tim por tim-tim.

Então ele fez outra prova

Sob nova orientação

Passo a passo nos mostrando

Como refazer a lição.

Nas contas com os inteiros

E também os decimais:

Vírgula debaixo da vírgula

É assim nas “contas de mais”.

Quando eram as de vezes,

Contas de multiplicar.

As casas depois da vírgula,

Nessas, tinha de contar.

Nas de dividir, então...

É mais fácil de explicar.

Bastavam as decimais

Antes de tudo, igualar.

A prova foi um sucesso

Depois dessa explicação.

Não teve quem tirou zero

Foi total a aprovação

Então o mestre explicou

Que foi nossa decisão

Diante dos resultados

Que dos nos deu motivação.

Disse que nessa terra

Todo mundo nasce igual

E o que faz a diferença

É não querer ser tal qual.

Todos podem aprender

A somar... Multiplicar.

Só uma coisa é preciso:

Coragem pra começar.

E isso aqui tem de sobra...

Tutano melhor tá pra vir.

Então não pode haver Matemática

Que nos faça desistir!

Um mais um soma dois

Duas vezes dois somam quatro

Aprendendo mais Matemática

Terá mais feijão no prato.

Como filho dessa terra

Lutarei até o fim.

E as glórias que vêm dos céus

Serão também para mim.