costumo te pensar

costumo te pensar quando andando por aí,

quando andando mansamente no estrabismo do meu mundo,

eu costumo te pensar serenamente como um vulto,

como as velas que se acendem sobre os túmulos necrófagos

profanados dos silêncios segredados e os olvidos,

eu costumo te pensar como fosse-me um sentido

e, já cansado da esperança,

eu costumo te pensar como a lembrança sobre a morte,

e é como tarde e muito tarde e um cansaço dormecente,

a minha vida é como estradas que caminham sem um norte,

costumo te pensar como um velho a juventude, como um forte

sentimento de sozinho estar sozinho a todo tempo nos meus olhos,

os meus olhos já não pensam, te contemplam,

como fossem-me as tuas sombras um sentido,

eu costumo te pensar como um resquício do infinito,

quando deito-me em teu colo e oscilo leve em tuas mansas,

em tuas formas deformadas e os meus medos,

quando tudo sobre ti são meus desejos,

quando tudo o quanto vejo me é cegueira em teus escuros,

quando então o travesseiro deita e pesa um pensamento,

assim que te costumo te pensar como um momento,

como um simples só momento,

como um simples só momento,

como um simples só momento

e passa.

(17/09/2004)

andré boniatti
Enviado por andré boniatti em 06/07/2006
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