Estou cansada de esperar que alguma coisa aconteça

Dentro de mim em flash-back
cenas de uma vida insonsa.
Não recebi as cartas coloridas
que a mim foram prometidas.
Esperei em todos os pássaros.
Lancei os olhos bem alto
para além dessas montanhas de ferro.
Quase me quebrei toda nessa espera.
Estou torta, estou morta.
Li todos os livros que todos todos têm que ler
para ter uma cultura interessante.
Não levei soco na boca do estômago.
Cultivo o tédio, bebendo uma caipirinha gelada
para que o vazio do tempo passe mais depressa.
Insone conto carneirinhos
que em bicho papão se transformam
Me sinto a avozinha a espera do lobo mau.
Desisto. Arrancarei fora as entranhas.
Preciso de lucidez.
Nada acontece debaixo desse sol
nessa ilha distante de todos os portos.
Um dia ainda acharei a garrafa do náufrago
com a mensagem que há de salvar-me.
Mandarei um cartão postal quando o carteiro passar
carregando o barco nas costas.
Esqueço o meu passado.
Quando nos encontrar-mos, por aí,
no sinal vermelho
de qualquer cruzamento da vida,
beijarei rapidamente teus lábios frios
e te darei adeus.

(do livro inédito de poemas= Com os meus olhos de sombra )