Fazer poético

Não escrevo o poema.

Ele, de mim, se apropria,

Em minha pele se instala

E se alastra; se propaga.

Da alma tomando posse.

Quem dera poeta eu fosse.

Não luto com palavras.

Elas me invadem, insidiosas,

E me corroem, destemperadas,

E me seduzem, despudoradas;

Em minha voz se insinuam.

Quem dera se as dominasse.

O poema me vem como onda

A trucidar rochedos que me habitam

A preencher abismos de silêncio

E quando se concretiza na palavra

Já não sou mais aquele que fala;

Se não uma outra voz que surge

Enquanto a minha se cala.

Shirley Carreira
Enviado por Shirley Carreira em 26/03/2011
Código do texto: T2871654
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