Naufragamos na noite branca da ilha
Naufragamos na noite branca da ilha
e o mar balançava a sorrir,
esquecemos de tapar os olhos
para não ver a vida no escuro
e também não tapamos os ouvidos
contra o grito da morte fria.
Na noite branca da ilha naufragamos
e não houve morte,
mas morremos
como se morre a cada dia
no amor
na rua
no cotidiano
longe de onde o mar balança a sorrir.
Agora estamos secos
mas afundamos mais profundo
na secura desses dias de hoje
secura de não amar
secura de não ser
de olhar as coisas vagamente.
Naufragamos ainda sem haver água nos pés
e na testa e no coração,
naufragamos secos,
e o mar balança e sorri
pra não chegarmos tristes ao fundo
quando o socorro não nos ouvir.