A PAIXÃO NÃO É O MUNDO soneto III

A paixão não é o mundo. Conceber

Que da mulher e do homem a porfia

Seja (de quanto há) o que mais vale ao ser

É a mais inerte e vã filosofia.

Nela teus sonhos hão de perecer

Quais tuas reflexões, à revelia;

Morrem a sanidade, o afã, o querer,

E os amigos (se é que os tiveste um dia...).

Tu mesmo morres, por conta da face

Que crias para a tua sobrepor,

Permitindo a outrem que teu fado trace.

Mas eis que também és o matador,

Pois não evitas que o ardor teu embace

A imagem turva a quem prestas louvor.

Daniel de Mattos
Enviado por Daniel de Mattos em 07/05/2012
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