A DAMA DA RETORTA 


 
Depressão bateu à porta,
Entrou, fixou morada.
Era visita inconveniente,
Nunca fora convidada.


Pensei que partisse rápido.
Mas o tempo de cada uma,
Débil e pálido, adoentado,
É incerto e diferente:
Eu penso que é muito,
Ela pensa que é pouco,
E de bocado em bocado
Vai ficando eternamente. 

  
Não gosto dela. 
Não temos sintonia.
Mas Dona Depressão, ao que parece, 
Ama minha companhia! 


Tentei despachá-la com espreita
Valendo-me da antiga simpatia:
A vassoura atrás da porta.
Numa infusão misturei alecrim e alho
Para afastar essa tristeza de borralho.
Decerto a receita
De mandinga e alquimia
Estava errada, fez-se torta:
A Dama da Retorta,
Tal qual tia enxerida,
Sempre aborta sua partida.

 
É um arriscado jogo de dados
Sobre um feltro verde invisível
Onde contabilizamos pontos
De Morte e de Vida,
De sorte e revés,
Uma competição de braço
Enquanto mantemos
Esse incômodo laço. 

 
O resultado decidirá o embate:

Quem largará a máscara primeiro?
           Quem sobreviverá por derradeiro?
                      Quem estará de partida? 




24/02/2006 - SP




 tela de P. Paul Rubens, 1615, "Hygeia" (deusa grega da Medicina e Saúde)
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 26/02/2013
Reeditado em 07/10/2014
Código do texto: T4160562
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