Jeca Poeta

Um homem parado na calçada

Havia perto daquela fachada.

Era difícil de ser confundido,

Pois dia a dia ali estava aderido.

Mantinha seu olhar reflexivo

De homem decidido

Que muito já havia vivido

E à vida devia ser agradecido.

Ele muito tinha a contar

De tanto em sua vida caminhar.

Bastava um breve lembrar,

Para de nostalgia se fartar.

Parecia inebriado,

Talvez absorto em reflexões,

Cheio de vida, mas taciturno,

Estava ali, mirando o gado, calado.

Não tinha esposa,

Mas tinha filhos

Que há muito não o viam

E nem mesmo falta dele sentiam.

Ele era o típico poeta.

Mas tristeza quase nunca sentia,

Pois a solidão ele havia escolhido

Para ser acompanhado pela poesia.

Em seus pensamentos, versejava e rimava

Com a sapiência que o tempo lhe dera

A qual em nenhuma ciência encontrava

E em sua solitude guardava.

Assim, ele usava a tristeza que sentira

Para poetizar sem papel, em sua mente,

E mostrava que a tristeza era simplesmente

Renascimento daquele que amor à vida sente.

Um homem parado na calçada

Havia perto daquela fachada.

Ele da vida tudo esperava,

Pois a poesia ele namorava.

Sua rotina era julgada sofrida

Por ser sem luxo e incompreendida,

Mas ninguém sabia que sua rotina em nada era sofrida:

Resumia-se em apreciar a beleza desmedida

Encontrada nas mínimas coisas que o rodeavam

E até na felicidade de gente desconhecida,

Pois só assim sua vida era colorida:

Observando a beleza que vem da natureza.

Só o julgavam taciturno

Aqueles que não entendiam

A filosofia por ele criada

Com a passagem de cada dia:

A natureza era a poesia,

Seu tempo era a reflexão,

A fachada era a nostalgia

E a mente era toda paixão.

*Poema vencedor do II Festival de Poesia do Campus Guarus - de Campos dos Goytacazes, RJ -, realizado no Instituto Federal Fluminense Campus Campos-Guarus, no dia 14/03/2013. Foi tido como o melhor texto do Campus Campos-Centro e o melhor da categoria intercampus, na disputa com outros campus do Instituto Federal Fluminense; e publicado na 69ª antologia da Editora Palavra é Arte.

Ronaldo Junior
Enviado por Ronaldo Junior em 15/03/2013
Reeditado em 27/07/2015
Código do texto: T4190230
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