POR UMA TARDE DE JULHO

(para Pelotas, 201 anos)

Morrer assim

numa tarde de sete de julho

ouvindo “Pour Élise” ao piano.

Morrer assim

quando a cidade esquecida de frio

é um hemisfério de blocos de concreto

lancinantes.

Morrer assim

como falou Wamosy

– a angústia roendo as vísceras.

Morrer assim

como tantas vezes já acontecera.

Morrer por morrer

como fenecem os dias, escondidos

em suas velhas tumbas

sem ritual nem liturgia.

Estranha tarde para morrer

quando o sol se debruça

no azul do pano de fundo.

Morrer insone: a angústia de saber...

Que o agora antecede o amanhã

construindo o hoje?

Morrer em meio ao som da Catedral

batendo sinos neste carrilhão do viver.

Morrer assim, em campanário,

Princesa que desperta

lúcida

– pombinha pousada nos dobrões de ouro

do passado.

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/4316270