UM CORPO

Um corpo dói

De muito ou pouco ser vivido

Porque as horas em que desfalece

Não se apega a nada

Fica apenas esperando

Ou aquietado em seu leito

Depois, querendo ou não, levanta

Chega à porta sem efeitos

E abre lentamente

Vai, olha em redor procurando

A nova flor da madrugada

(Um aroma que não sai da mente

Fica lá por todo sempre)

Um corpo dói e não lastima

Quando as chuvas batem

Nas telhas desgarradas

E vem o vento de solenidade riscar

As vidraças do velho convento

Batem respingos em toda poça

E cativantes nuvens

Suspendem seu respiro

Enquanto os passos de uma raposa

Se percebem lentamente

O uivo do frio se alerta

(Como um grito esparso alastrado

Que se mantém em sibilo)

São Paulo, 14 de março de 2014.

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 14/03/2014
Código do texto: T4728335
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.