UM CORPO
Um corpo dói
De muito ou pouco ser vivido
Porque as horas em que desfalece
Não se apega a nada
Fica apenas esperando
Ou aquietado em seu leito
Depois, querendo ou não, levanta
Chega à porta sem efeitos
E abre lentamente
Vai, olha em redor procurando
A nova flor da madrugada
(Um aroma que não sai da mente
Fica lá por todo sempre)
Um corpo dói e não lastima
Quando as chuvas batem
Nas telhas desgarradas
E vem o vento de solenidade riscar
As vidraças do velho convento
Batem respingos em toda poça
E cativantes nuvens
Suspendem seu respiro
Enquanto os passos de uma raposa
Se percebem lentamente
O uivo do frio se alerta
(Como um grito esparso alastrado
Que se mantém em sibilo)
São Paulo, 14 de março de 2014.