Ode à decadência
Escreverei uma ode a todos os talentosos vagabundos.
Dos que a noite habitam, e dos vícios que alimentam sua poesia marginal e sedutora.
Que de tantas palavras doces, filosofadas, haja tanta dor em versos tristemente convertidos ao fundo de um cálice de doença e melancolia.
Dentro de corações que preferem o entorpecimento a viver a cinza e suja vida real.
Fazendo de seus delírios o mais doce de todos os lamentos.
Amando cada pedaço de nada que lhes é oferecido, como fosse o mais disputado dos troféus.
Serão eles os românticos incorrigíveis?
Pois claro que sim!
Quem entre muitos amores possa viver, a vida lhe será completa, ainda que vazia. Pois de natureza sensível, há sempre algo grande demais para ser suportado sem poesia, e dela a destruição.
Os de fora crêem a mais pura arte, mas condenam os que a fazem. Destroem, tanto mais os que a compõe do que os próprios vícios do caminho sinuoso, que é percorrido em busca da alma humana em frangalhos enegrecidos pelo desassossego agonizante no peito castigado.
De asas abertas, a receber a noite fragrante, pedindo ao veneno que lhe flua os sentidos e deixe, só então, que as lagrimas sejam palavras e as palavras tragam as lagrimas, criando o eterno ciclo de desamor, tão sincero quanto um coração magoado pode ser.