O Reflexo

O Reflexo

Fechei os olhos e havia círculos dentro de círculos,

Do arrepio traidor da pele – da cabeça aos meus pés.

Pela estranha trilha fui encarando um reflexo no vidro.

E as mesmas vozes no ouvido eram imagens nos olhos.

Asfixiando a minha alma e oprimindo os pensamentos.

Horas havia um gozo aqui dentro, horas outras, desilusão.

Tilintava a noite do outro lado escuro da gélida estrada,

Meus olhos mirantes corriam para se ludibriar ao nada.

Um suor frio que incomumente misturava-se a lágrimas,

Era eu, um e do outro lado, aquele que olhava para mim.

Atordoado demais para explicar minha própria gravura!

Sem censura, jamais interveria na minha desapropriação.

Exatamente como saber que jamais poderia controlar.

“Aquilo”, efeito de tudo o que um dia fui ou teria sonhado.

Em partes, em destinos, em dois, uma mera aparência.

No revérbero sobreposto, outro rosto que não era meu.

Uma conexão distinta, ou ligação maldita, senti a ausência.

Sim, confesso! Como eu invejei a minha projeção imóvel!

E então todas as indagações sobrevieram como trovões.

Antigas e presentes vozes gritantes na mente desgarrada.

Naquele instante eu compreendi quem estava d’outro lado.

Minha mente que tomava formas – Uma inaceitável realidade.

Como distinguir veracidade enquanto a mente se humaniza.

E qualquer humanidade banaliza afim de me trazer insanidade.

Materialização involuntária que tem dissociado o “eu” de mim.

Victor Cartier

Victor Cunha
Enviado por Victor Cunha em 23/10/2014
Reeditado em 23/10/2014
Código do texto: T5008882
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